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Guiomar: a mudancista e pioneira

 

Por Jarba Marques

Guiomar de Arruda Câmara, secretária, revisora e cartógrafa da subcomissão de Investigações Agronômicas da Comissão de Estudos para a Localização da Nova Capital do Brasil – Comissão Polli Coelho –, faleceu em Brasília, no dia 10 de setembro, 40 anos após ela e seu  marido, o agrônomo-economista Antônio de Arruda Câmara – presidente da Subcomissão de Investigações Agronômicas –, percorrerem o Planalto Central, pesquisando a fauna, a flora e os recursos hídricos da região.

Em seu sepultamento, na área dos pioneiros do Campo da esperança – além das homenagens oficiais do Governo do Distrito federal –, entre as dezenas de amigos e admiradores, alinhava-se dona Hilda Sayão – viúva do engenheiro Bernardo Sayão –, que em 1947 a hospedou em Ceres, na Colônia Agrícola Nacional de Goiás, por ocasião das suas pesquisas no Planalto Central.

        O falecimento de Guiomar de Arruda Câmara ocorreu 25 dias após completar 90 anos de idade, e foi considerado por seus médicos como “um acidente de percurso”, devido ao seu bom estado de saúde, tendo a apendicite aguda que a vitimou impedindo a realização de seu sonho de assistir a comemoração do Centenário da Constituição de 1891, que determinou a mudança da Capital Federal para o Planalto Central.

        Guiomar de Arruda Câmara – que em reconhecimento pelos seus méritos na luta pela construção, e transferência da Capital Federal foi condecorada em 1986 pelo Governo do Distrito Federal no grau de Comendadora da Ordem do Mérito de Brasília –, conservou-se lúcida, romântica e participante até o final da vida, atuando como revisora dos jornais VOZ DE LUZIÂNIA E JORNAL DO ENTORNO, fundados por seus netos Ivany Câmara Neiva e Jarbas Silva Marques.

A VIDA

        Nascida numa família de positivistas e republicanos – seu avô Venâncio Neiva foi o primeiro governador da Paraíba após a proclamação da República –, Guiomar de arruda Câmara desde a sua infância conviveu com os ideais da transferência e da construção da Capital da República para o Planalto Central.

        Na casa de seu pai, o desembargador Manoel Cavalcanti de Arruda Câmara, Lauro Müller articulou com positivistas republicanos, a inclusão de um artigo na Constituição de 1891 – a primeira constituição republicana – que obrigasse a transferência da Capital Federal para o Planalto Central.

        Este artigo, posteriormente, fundamentaria a ação dos mudancistas goianos e luzianos Americano do Brasil, Evangelino Meireles, Gelmires Reis, Balthazar reis, Joaquim Gilberto e Benedito de Araújo Melo, que através de um projeto do deputado Americano do Brasil na Câmara dos Deputados, implantou um marco em Planaltina em 1922, por ocasião do Centenário da Independência.

        Guiomar de Arruda Câmara, nascida no dia 15 de agosto de 1897 em Blumenau – seu pai era desembargador e, à época, os desembargadores eram transferidos por todo o País – recebeu uma educação esmerada e além de dominar o francês – a linguagem da cultura de seu tempo –, tocava piano, desenhava e lera praticamente quase todos os clássicos da literatura universal.

        Ao casar-se com seu primo, o agrônomo economista Antônio Arruda Câmara em 1921, passa a secretariá-lo e apoiá-lo na defesa do seu ideal a favor da implantação do cooperativismo como forma de romper o atraso secular da agricultura brasileira.

        Antônio Arruda Câmara passa a ser um importante promotor do associativismo rural no País e tendo sempre Guiomar de arruda Câmara a lhe secretariar e a revisar seus trabalhos do Ministério da Agricultura e seus textos nas Revistas Charruas, Brasil Agrícola, Moeda e Crédito, Rural e na A Lavoura, da Sociedade Nacional da Agricultura, a que pertencia desde 1918, orgulhando-se do seu diploma de sócio, assinado por Lauro Müller.

        Quando seu esposo é chamado a dirigir o serviço de Economia Rural do Ministério da Agricultura, ela o acompanha pelo Brasil afora na organização das bases do atual sistema de fomento agrícola e na difusão de novas técnicas de produção do Rio Grande do Sul ao Nordeste.
        O mesmo acontece quando ele participa da estruturação da Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos – CNEC e na fundação da Escola de Horticultura Wenceslau Belo, no Rio de Janeiro, da qual Antonio foi diretor por mais de vinte anos.

BRASÍLIA

        Na sua última entrevista, concedida em abril de 1986, ela relembrou a sua participação na Comissão Polli Coelho: “Numa tarde – não me lembro da data – Antônio chegou em casa e disse: Vamos escolher o local para a futura capital do Brasil. Fiquei muito contente e passei a me preparar para a viagem.

        Na verdade – estendeu-se – desde a minha infância em Santa Catarina a mudança da capital para o interior brasileiro era tema das conversas entre meu pai e os colegas da Magistratura, e com políticos, como o doutor Lauro Müller, e também com meu tio Venâncio Neiva, velho republicano.

        Fui então para a Biblioteca Nacional e passei a ler toda a documentação a respeito, detendo-me nos mapas e nos relatório de Luiz Cruls e, em 1947, Antônio e eu tomamos um avião no Rio de Janeiro com destino a Goiânia.

        No aeroporto fomos recebidos pelo Joaquim Câmara Filho, que era o Secretário da Economia, já que o governador Coimbra Bueno estava em excursão no Rio Araguaia.

        Depois dos contatos como doutor Iron da Rocha Lima e com o agrônomo Juvenal Costa, percorremos Goiânia e as cidades próximas. Um cinco a seis dias depois da nossa chegada partimos de Goiânia em um automóvel cedido pelo Governo do estado e dirigido pelo senhor Geraldo (não me lembro do seu sobrenome) com destino a Planaltina.”

        Perguntada sobre o “Encontro das Águas”, Guiomar Arruda Câmara abriu seus grandes olhos e quase em estado de êxtase falou: “Quando fui me preparar para a viagem, na Biblioteca Nacional copiei uns mapas do tempo de José Bonifácio, e, como eu já conhecia o livro de Luiz Cruls, ficou mais fácil saber por onde andaríamos. Cruls tinha falado que as nascentes das três bacias estavam distantes uma das outras ‘a um tiro de espingarda’. Antônio perseguia desde o Rio de Janeiro, a vontade de encontrar essas nascentes.

        Aliás, ele se bateu, até pouco antes de sua morte, pela criação do que ele chamava “Santuário das Águas Emendadas”. Lembro-me de seus artigos em jornais e revistas especializadas nos quais defendia a idéia.

        Lembro-me também, que quando foi criada a Novacap pelo presidente Juscelino Kubitschek, ele apresentou novamente a sugestão desse Parque Nacional, que hoje existe como Reserva das Águas Emendadas.”

 

Jarbas Silva Marques
Jornalista, professor e historiador. Foi diretor do Patrimônio Histórico e Artístico do Distrito Federal (DEPHA), e é membro do Instituto Histórico Geográfico (IHG-DF).

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