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1º DE MAIO: DIA DO DOUTRINADOR
VALE DO AMANHECER
PLANALTINA/DF

 

 

O descortinar do dia no Vale do Amanhecer, toda data consagrada mundialmente ao trabalhador, é marcadamente comemorada. Desde 1976 que a saudosa Tia Neiva reúne seus médiuns no descampado da Estrela Candente, ou Solar dos Médiuns, e realiza ali um colorido, vívido e dinâmico ritual. Nenhum outro local para proporcionar aquela singular geografia com uma não menos singular celebração. Espraiado pelo Vale do rio Pipiripau, nas imediações onde este faz barra com o ribeirão Mestre d’Armas para formar o já caudaloso São Bartolomeu, o Solar dos Médiuns testifica a obra constituída por Tia Neiva. Ao que se recorda a única mulher em terras brasileiras a trazer milhares de pessoas, de prontidão desde as três horas da madrugada, para cumprirem o ritual que se inicia ao raiar do dia prolongando até bem perto do meio dia. A panorâmica é de tirar o fôlego. Diante da Estrela Candente ou solar dos Médiuns, a beleza da Serra do Piquizeiro a guardar os primeiros raios do Sol projetando-se sobre o Lago de Mãe Iemanjá, e reluzindo nas vibrantes e coloridas vestes ou indumentárias das ninfas – sacerdotisas do Amanhecer – certamente encantará o visitante. Para quem resolva escalar o suave Morro “Salve Deus”, debruçado sobre os médiuns concentrados na Estrela, a visão não é menos compensadora. Longas filas indianas a demandarem o Solar dão o toque transcendental de que não se estaria em pleno século XXI a escassos quarenta quilômetros da capital brasileira. Mas sim, tudo isto está no coração do Distrito Federal, cerca da mais antiga cidade satélite de Brasília, Planaltina, a pelo menos quarenta e oito anos.

Mas porque o 1º de maio? Segundo Mário Sassi, escritor/divulgador e companheiro de Tia Neiva, a relação é intrínseca, pois o doutrinador do Vale do Amanhecer seria o trabalhador da seara de Jesus.(01) Na doutrina constituída por Tia Neiva o médium doutrinador veio ao mundo como um trabalhador das obras do Cristo redivivo, lastreadas na caridade, no amor ao próximo e na presteza à cura espiritual. Temas frugais e prosaicos, mas que no Vale tem significado fundamental: fora a prestação desses trabalhos ao próximo, não haverá a salvação. Pois todo o ingente e madrugador ritual seria para o recebimento das energias necessárias à condução desses trabalhos de amor ao próximo, de caridade cristã e cura espiritual. Daí que a associação feita entre o dia do trabalhador e o dia do doutrinador, na doutrina espiritualista do Vale do Amanhecer é complementar e harmônica. E tal relação leva em conta ainda que a jornada de trabalhos mediúnicos no Vale é intensa, todos os dias da semana das dez horas da manhã até tarde da noite, quando é atendido os últimos visitantes/pacientes. Em média um adepto do Vale dedica-se nos setores de trabalho espiritual do Templo e do Solar dos médiuns cerca de 10 a 12 horas por dia. E quase todos esses trabalhadores do espírito não se resignam a apenas um final de semana; é normal três ou quatro dias dedicados aos trabalhos no Vale.

 

 


Quanto ao dia 1º de maio a jornada começa na verdade dias antes, quando todos os grupos organizados de médiuns, as chamadas falanges missionárias, se mobilizam para o ritual e a acolhida aos médiuns residentes fora de Brasília. São preparadas acolhidas básicas, como alimentos, bebidas e utensílios para almoço e janta; desjejuns para o dia 30/04 e a madrugada do dia do doutrinador; e acolhida residencial para aqueles que precisam pernoitar. Em relação aos trabalhos espirituais são deverasmente incrementados com a chegada de centenas, senão alguns milhares de trabalhadores do espírito que lotam as instâncias do Templo e da Estrela Candente. O número de pacientes também dobra ou mais, devido à movimentação divulgada na própria Brasília e pelos acompanhantes das centenas de médiuns ou seus familiares. No dia ou nas horas que antecedem a consagração, todos querem consultar-se com as entidades do Vale, passar nos trabalhos desobssessivos para energizações e limpeza de áurea, tomar bênçãos e orar junto às imagens de Jesus Cristo e Pai Seta Branca, este último, o mentor (protetor) da seita do Vale. Realmente o dia do doutrinador movimenta um pequeno burgo que se veste e se colore à moda medieval, segundo alguns, à moda egípcia segundo outros ou ainda à moda dos primitivos habitantes do Brasil anterior aos portugueses, índios e povos pré-colombianos. A comunidade com seus vinte mil habitantes, mais ou menos, se transporta no tempo, de volta à antigas cerimônias em que são invocados deuses e figuras do panteão greco-romano e do antigo Egito. Um interessante e cósmico caldo do passado condensado na religiosidade católica, com a profunda veneração a Nossa Senhora e a São Francisco de Assis. Alguns dos mais numerosos uniformes exibidos no 1º de maio remetem às túnicas e hábitos franciscanos, com seu tradicional marrom com preto para os homens e mulheres, afora outras vestes a remontarem episódios históricos de antigas civilizações.


Algo que realmente sintetiza a cosmovisão e o imaginário coletivo brasileiros, “coisas” só encontradas aqui no Brasil, com a tolerância plena às mais inusitadas e profundas manifestações do espírito. E para regozijo dos que moram na densa área metropolitana próxima ao Vale, uma interessante manifestação dos habitantes do Planalto Central, fácil e acessível para se ver. Sim, não poderia deixar de ser, já que numa das passagens ritualísticas do 1º de maio, a concentração de energias no Brasil Central propiciou o surgimento aqui dessa reunião de médiuns, espíritos e trabalhadores. Todos a serviço do atendimento ao próximo.

 

 


Ao término do ritual, por volta das doze horas, rostos cansados e sonolentos mas felizes por mais uma consagração, o 1º de maio, Dia do Doutrinador é encerrado, quando as ninfas representantes de Tia Neiva deixam o Radar da Estrela Candente, espécie de lócus sagrado de onde se preside os rituais do dia. A consagração se realiza com as bênçãos recebidas por cada casal de médiuns – não cônjuges – que vão passo a passo deixando a “área iniciática” (zona sagrada onde se prosseguem os trabalhos espirituais) até que toda a multidão, algo como dez mil, esvaziam o Solar dos Médiuns. Os últimos a sair são as representantes de Tia Neiva, já citadas, e seus respectivos acompanhantes, muitos familiares da sacerdotisa mor e fundadora do Vale. Todos na esperança do vindouro 1º de maio seguinte, mas certos de que as energias foram apropriadas para nos doze meses seguintes serem utilizadas nas máximas da doutrina trazida por Tia Neiva: amor ao próximo e cura do espírito e do corpo físico.

 

Bruno Rezende Santiago Chagas, professor da SEE/DF

 
(01) Sassi, Mário. Sob os Olhos da Clarividente. Edição: Vale do Amanhecer. 1980. P. 27.

V O L T A R

 

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