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LUIZ CRULS:
"MAIS BRASILEIRO QUE MUITOS BRASILEIROS"

Por Jarbas Silva Marques

 
No dia 21 de junho ocorre o centenário de falecimento do astrônomo Luiz Cruls, em Paris, vítima de malária e beribéri, contraídas na Amazônia, em 1901, quando estabelecia as fronteiras do Brasil com a Bolívia e o Peru, e que eram os argumentos para o Barão do Rio Branco celebrar um marco na diplomacia brasileira em 1903 – o Tratado de Petrópolis – que anexou o Acre ao Território Nacional.

Luiz Cruls chefiou em 1892 a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, que passou à história como Missão Cruls, que demarcou o quadrilátero que originou o atual Distrito Federal onde está edificada Brasília como Capital da República.

Além destas tarefas patrióticas, Luiz Cruls construiu a sua vida científica na condição de brasileiro naturalizado, era belga de nascimento, descobrindo cometas, e crateras na Lua e canais em Marte que astronomicamente levam seu nome com lauréis das academias de astronomia e de ciências em todo o mundo.

 


Paixão pelo Brasil

Nascido a 21 de janeiro de 1848 em Diest, província de Brabante, na Bélgica, após cursar Humanidades ingressou na Escola de Engenharia Civil da Universidade de Gand em 1863, concluindo o curso em 1868. Em 1872 foi admitido no Exército Belga como Aspirante em Engenharia Militar, galgando em apenas um ano o posto de primeiro-tenente.

Contagiado pelos brasileiros que foram seus colegas na Escola de Engenharia pediu demissão em 1872 do Exército Belga e viaja para conhecer o Brasil.Para felicidade de nós Brasileiros, no dia 5 de setembro de 1874 ele embarcou em Bordeaux num pequeno vapor e a bordo também estava Joaquim Nabuco que iniciava sua carreira diplomática e que viria a ser um grande tribuno abolicionista, escritor e humanista.

Durante a viagem, que demandava mais de 20 dias, Cruls e Nabuco iniciaram uma grande amizade, pontilhada de discussões científicas e humanísticas.
Cruls confidenciou-lhe que iria procurar no Rio de Janeiro o engenheiro Caetano Furquim de Almeida, que fora seu colega em Gand, juntamente com os estudantes brasileiros João Van Erven, Cristiano Ottoni, Manuel Lara Caetano da Silva, José Maria Vianna, Antonio Chermont e Félix de Morais.
Chegando ao Rio de Janeiro, Luiz Cruls soube que Caetano Furquim estava no Rio Grande do Sul construindo uma ferrovia, e que só iria retornar meses depois.

Aconselhado a procurar o Imperador Pedro II no Paço Imperial, foi por ele recebido amavelmente e em seguida Joaquim Nabuco o apresentou ao engenheiro Buarque de Macedo, diretor-geral do Ministério dos Trabalhos Públicos.
Buarque de Macedo o nomeou membro da Comissão encarregada de elaborar a Carta Geral do Império e Levantamento do Município Neutro, que veio a originar na República o Distrito Federal, unidade federativa diferenciada onde hoje está edificada Brasília.
Retorna a Europa em 1875 para auxiliar o ministro na compra de instrumentos científicos geodésicos e astronômicos necessários para a grande tarefa e atualização do Observatório Astronômico Imperial.

Ainda em 1875, com a pesquisa que elabora sobre o “Método de repetição e reiteração para a leitura de ângulos com fins astronômicos e geodésicos”, publicada na Universidade de Gand, deu-lhe os títulos necessários para ser admitido como Astrônomo-Adjunto do Imperial Observatório do Rio de Janeiro.
Em 12 de fevereiro de 1881, o Imperador Dom Pedro II assina o ato de naturalização por ele requerido e aportuguesa seu nome para Luiz Cruls – chamava-se Louis Ferdinand Cruls – e a 24 de março foi nomeado como primeiro astrônomo do Imperial Observatório.
           
A 6 de maio de 1878, quando da passagem do planeta Mercúrio pelo disco solar, apresentou a Academia de Ciências de Paris um ensaio sobre os diâmetros do Sol e de Mercúrio, determinados durante o fenômeno. Ainda em 1878 expôs sobre as manchas e duração do movimento de rotação de Marte, imortalizando eternamente seu nome com seus estudos e pesquisas sobre a superfície da Lua e de Marte, onde a ciência colocou seu nome em crateras e canais.
           
Em 1882 a astronomia brasileira viveu um grande prestígio internacional quando Cruls descobriu um cometa que leva seu nome, recebendo o Prêmio Vals da Academia de Ciências de Paris. Suas pesquisas o levariam a introduzir a Astrofísica no Brasil quando aproveitou o trânsito de Vênus sobre o Sol, e pode então medir a distância da Terra até o Sol, centro do sistema planetário em que vivemos.

Pela sua formação de engenheiro militar foi nomeado professor de Astronomia e Geodésia da Escola Superior de Guerra que formava os oficiais do Exército Brasileiro, onde lecionou por 19 anos, recebendo o título de Major-Honorário sendo promovido a tenente-Coronel pela sua participação legalista na Revolta da Armada.
Hoje, graças à ação do coronel Manoel Soriano Neto, quando Diretor do Centro de Documentação do Exército, a 11ª Região Militar, onde está o Distrito Federal leva o seu nome como cumpridor científico da Primeira Constituição Republicana, de 1891, que determinava a demarcação, construção e mudança da Capital da República para o Planalto Central.

O Quadrilátero

No dia 17 de maio de 1892, o Ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Antão Gonçalves de Farias, nomeou Luiz Cruls para chefiar e organizar a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil para demarcar o futuro Distrito Federal.

Ele a constituiu com astrônomos do Observatório Astronômico e com engenheiros militares, seus ex-alunos na Escola Superior de Guerra.
Além de dois astrônomos do Observatório, Henrique Morize (que registrou fotograficamente a expedição) e Julião de Oliveira Lacaille, incluindo também o médico higienista Antonio Martins de Azevedo Pimentel, o geólogo Eugênio Hussak, o botânico Ernesto Ule e para a manutenção dos equipamentos científicos os dois mecânicos do Observatório Eduardo Chartier e Francisco Souto.

Entre os seus ex-alunos na Escola Superior de Guerra, os engenheiros militares Augusto Tasso Fragoso, Celestino Alves Bastos, Hastímphilo de Moura, Alípio Gama e Antonio Cavalcanti de Albuquerque.
Além dos seus ex-alunos a comissão incluía o médico Pedro Gouveia e o capitão farmacêutico Alfredo José Abrantes (que chegaria ao generalato).
No comando do contingente militar de proteção e cobertura comandado por Pedro Carolino Pinto de Almeida, os alferes Joaquim Rodrigues de Siqueira Jardim e Henrique Silva, bisavó do historiador e economista Paulo Bertran, recentemente falecido, e que fundou no Rio de Janeiro a revista mudancista Informação Goiana na segunda década do século passado.

No corpo de auxiliares Antonio Jacinto de Araújo Costa, João de Azevedo Peres Cuiabá, José Paulo de Melo e Felicíssimo do Espírito Santo, bisavó do ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Ao cabo de oito meses sob a liderança científica e pessoal de Luiz Cruls a Comissão Exploradora do Planalto Central elaborou um relatório que passou à história como Relatório Cruls, tornando-se o primeiro a elaborar o que hoje é a exigência legal necessária para o estudo dos impactos ao meio ambiente os RIMAS.

A Última Tarefa Patriótica

O Brasil vive no momento um embate entre os brasileiros nacionalistas e patrióticos e os entreguistas e capitulacionistas da soberania nacional enquistados nos três Poderes da República.
Um herói brasileiro que deve ser referenciado por todos os povos e países americanos, Plácido de Castro, impediu há 106 anos atrás, o estabelecimento de um enclave neo-colonialista dos Estados Unidos na América do Sul.

Se Plácido de Castro não tivesse liderado e comandado a Revolução do Acre, o Bolivian Syndicate, presidido pelo filho do presidente americano, com a conivência das elites civis e militares do Brasil, da Bolívia e do Peru, a Amazônia já estaria internacionalizada e ocupada política e militarmente há um século.
Depois da derrota do Exército Boliviano, a última tarefa patriótica de Luiz Cruls foi buscar as nascentes do Rio Javari para assegurar, ao Barão do Rio Branco, as condições objetivas na elaboração do fato mais orgulhoso da diplomacia brasileira: o “Tratado de Petrópolis” em 1903
.
Nas matas amazônicas Luiz Cruls contraiu malária e beribéri e, contrariando os seus subordinados – após a morte do capitão Accioly da Marinha Brasileira e da saúde crítica do Major Tasso Fragoso – ele determinou que o carregassem numa maca até que terminasse todo o trabalho cartográfico que subsidiou o Barão do Rio Branco.
O astrônomo Ronaldo Mourão, o seu biógrafo, narra a sua viagem para a França na esperança de curar-se: “Seu amor pelo Brasil era tão grande que, em sua viagem à Europa, todas as noites permanecia no convés do navio observando o céu. Na noite, em que contemplou o Cruzeiro do Sul desaparecer, no horizonte oceânico, ao voltar para a cabine, disse para a sua esposa: ‘Tudo acabou’”.

Era a premonição de que não mais voltaria ao Brasil.

O Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal vai procurar seus familiares para que autorizem a transladação de seus restos mortais para o Distrito Federal, a fim de aqui repouse quando comemorarmos o jubileu dos cinqüenta anos da inauguração de Brasília pelo condutor de sonhos, Juscelino Kubitschek de Oliveira

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ISSN -  2447-8601