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Capítulo III

Manifestações Culturais de Planaltina

Compreendemos as manifestações culturais em Planaltina como momentos sucessivos que unem a paisagem urbana, o fazer e o modo de ser de seus habitantes. Com essas considerações, esclarecemos que definimos esses “momentos” como subdivisões deste capítulo da Cartilha, sem a preocupação cronológica de tempo, mas com a largueza do tempo e frequência de ocorrência dos eventos ou de observação do que se classifica como objeto de expressão cultural. Dispensamos da presente abordagem as motivações, o caráter religioso ou místico e os aspectos psicanalíticos, que possam caracterizar as deformações dessas manifestações no curso de seus acontecimentos. Assim:

 

1.     Festas religiosas e folclóricas
   

Uma Festa religiosa de Planaltina que teve acontecimento desde a criação do Arraial foi a de São Sebastião.

Houve uma promessa de doação de terras com a construção de um orago se uma epidemia que dizimava os moradores da região, idos de 1790. Com o acontecimento do “milagre”, em agradecimento, a população que habitava o Sítio de Mestre d’Armas fez a doação de meia légua por uma de terras para se criar um povoamento dos devotos de São Sebastião. E com a construção da dita igrejinha, na sua inauguração, foi criado o Arraial de São Sebastião de Mestre d’Armas.

A festa de São Sebastião passou a ser a mais importante do Arraial e teve o seu crescimento até o início do século XX. Constituía-se novena, animação, quermesse e leilões. Sendo que no início a própria presença de padres considerava-se um privilégio.  Esse era o tempo de realização de batizados, casamentos e rezas.

Outra festa religiosa era a de São João, que se tem notícia de seu aparecimento depois de alguns anos da criação da Paróquia de Planaltina em 1880. No início, até 1920, mais ou menos, definia-se uma criança como “Imperador”, e a festa era animada com danças de quadrilha, catira, umbigada, curraleira e baile. Havia a novena de São João, fogueira, hasteamento do mastro e quermesses.

Dois eventos que se consideram folclóricos eram a construção de presépios em várias casas do Povoado com a consequente visitação de um grupo de jovens, caracterizados como pastores, que realizava cânticos alegres e agraciado com um café com biscoitos, que era servido pelo morador.

 

2.     Folias

A Folia da Reis ocorria na área urbana e rural desde o início do século passado. Com a construção de Brasília ela perdeu os dois mascarados, perdeu o boi prateado que dançava, perdeu os guias violeiros e a sanfona de oito baixo, contavam os antigos. Ficou o colorido das fitas e das roupas dos acompanhantes e o estandarte com a imagem dos reis magos. Uma caixa marcando o ritmo e uns pandeiros.

A Folia de Reis nunca teve um número fixo ou definido de participantes. Mas, enfim, ela era composta dos três reis magos: Gaspar, Belchior e Baltazar; o parta estandarte, dois ou três violeiros; dois palhaços, “Bastião” e “Morungo”, que segundo a lenda, eram encaminhados por Herodes para alegrar ou matar o menino Jesus, depois de seu nascimento.

A bandeira ou estandarte branco, nas mãos do alferes tinham a imagem dos Reis e do santo menino, mantinha o respeito daqueles que tinham as suas casas visitadas. A Companhia sai fazendo festa e visitando casas, que solicitam a consideração e o atendimento. Na entrada da casa, o alferes passa a bandeira ou o estandarte para o dono da casa e cantam diante do presépio. Os guias violeiros cantam a “licença”, a “viagem do três Reis Magos”, o “nascimento de Jesus”, os “presentes”, “proteção da casa” e “agradecimento”.

A Folia escolhe um “festeiro”, que comanda e patrocina a festa e a novena, com a ajuda dos donos das casas visitadas, participantes, acompanhantes e noveneiros.
Essa Folia, segundo Zaide Maciel de Castro, ela não é diferente noutro lugares e Estados da Federação.

Os cânticos são mais ou menos assim:

         Saudações do presépio:


           “Entremos cantores, entremos 
 por este salão dourado
          eu vou entrando, eu vou salvando
          e para sempre seja louvado...
          Os três Reis do oriente
           na sombra de seu telhado
           tamos fazendo adoração
           que de Deus somos mandado
           Na minha bander eu trago
           Santo de grandes virtudes
           E vem le visitá
           E v ele trazê a saúde.”
           O agradecimento:
           “Deus le pagu’a bel’oferta
             que vos deu de coração
             os três Reis que le ajude
             e Deus le omente as porção.”


A folia do Divino Espirito Santo é, hoje, a maior festa da igreja de Planaltina. Ela pode ser compreendida de duas maneiras diferentes, unidas pelas mesmas finalidades principais: agradecimentos de graças e homenagem ao Divino Espírito Santo. São elas: a Folia de rua que acontece no setor urbano da Cidade e a Folia de Roça com ocorrência na área rural.

A Folia do Divino, na sua origem em Planaltina, após a criação da Paróquia de São Sebastião, era única envolvendo os moradores de maneira global, ainda, quando Vila e, depois, como Cidade. Contavam os antigos que na área rural, a Folia passou a ser uma coleta de donativos para a festa no setor urbano. Mas essa coleta, durante nove dias terminava à  na casa de morador específico, que preparava uma recepção. Da mesma o grupo, com um ou dois instrumentos musicais, usava uma caixa para anunciar que o cortejo passava ou que chegava. Ao chegar numa fazenda o grupo cantava e  uma coreografia em volta do Cruzeiro, um sinal próprio do morador católico. A essa cerimônia deram o nome de “canto do cruzeiro”. Após a esse acontecimento se dirigiam para um altar para anunciar a chegada e solicitar o acolhimento dos moradores naquela localidade. A denominação desse fato passou a se chamar de “canto de entrada”. Depois de servir uma mesa farta para os acompanhantes do cortejo (foliões), esses mesmo circulavam a mesa fazendo novo agradecimento pela alimentação. A essa cerimônia deram o nome de “bendito de mesa”. No dia seguinte, no momento da saí daquela fazenda, o grupo entoava o “canto de despedida”. O evento dessa passagem pela fazenda recebeu o nome de “pouso de folia”. O barracão, construído de improviso, para abrigar os acompanhantes, também, com finalidade de atendimento durante a noite toda era chamado de “mussunga”. Ainda sobre o “pouso”, sempre, eram organizados grupos para a dança da catira ou da curraleira.

Mais tarde, com o desenvolvimento da Folia de Roça, o porta bandeira foi chamado de alferes, e foram estabelecidas regras específicas como a forma de carregar a bandeira com o devido respeito, e de que o cortejo não podia trilha por estradas tendo que cruzar o caminho já realizado. Não se alimentar calçando o chapéu; Que o primeiro pouso fosse chamado de “alvorada da Folia”, sendo realizado ali o “canto de alvorada”; Que ao encerrar a Folia, na igreja, com os donativos, era feita a “entrega da bandeira” e realizado o canto de encerramento, com o nome de “desalvorada da Folia”; Que fosse escolhido um “folião da Folia” (comandante) com finalidade de receber as solicitações dos “pousos”, organizar o evento com o cortejo e patrocinar (com o recebimento de doações) os gastos durante os nove dias de Folia; e, o grupo de animação folia deveria ser composto de pelo menos: dois violeiros (guias da Folia), um rabequeiro (que tocava um violino primitivo), um caixa (para soar compassadamente a passagem o a chegada do cortejo). Os guias violeiros improvisavam cânticos próprios, sempre acompanhados por dois outros imitadores (“cunhas” ou “sombras”) que repetiam as estrofes puxadas pelos violeiros.



Segundo Melo Morais Filho em “Festas tradicionais populares brasileiras”
diz alguns preceitos são considerados ao improvisar os cantos.

Quando estiver pedindo esmola:

  “Dai esmola ao Divino
   com prazer e alegria
    reparai que esta bandeira
   é de nossa freguesia.”


Na porta da fazenda depois da coreografia do cruzeiro (“coração”)
e “canto do cruzeiro”:

”Ó senhor dono da casa
recebei esta bandeira
       faça o favor de entrega-la
      a quem por companheira”

 

Em Planaltina nada é diferente. Mudam as palavras, mas o sentido e o mesmo.
Como exemplo de “canto de Cruzeiro”, fornecido por um informante da região (Chico):

   “Deus salve o bom lugar
          donde sentou este madeiro
e teja hoje visitado
      o nosso pai verdadeiro.

                   Salve Deus a luz acesa               
      no braço deste Cruzeiro
       alumiano as santas face
         de nosso pai verdadeiro.”

 

O desfecho do evento, hoje, acontece com encontro das Folias de Rua e de Roça, quando acontecem missas e almoços específicos.

A Folia do Divino de Rua é programada anualmente, quando são definidas as funções de todos os participantes de todos os eventos da Festa no ano seguinte. Os cargos principais são escolhidos por sorteio.

A Folia compõe-se inicialmente de um Folião festeiro, responsável pelo acontecimento da Festa, e um Imperador, que os gastos com o primeiro.

O Folião empunha a bandeira do Divino, chamada de retrato, e sai  rua por rua, casa por casa, pedindo esmolas, com o acompanhamento de uma Banda de música e um coro de vozes. Isto, durante os nove dias da novena, que antecedem o trido (três últimos dias) da Festa. Dessa caminhada incansável, o Imperador participa da última.

Sobre outros participantes envolvidos: mordomo das barracas, que monta as barraquinhas para entidades religiosas e sociais que contribuem com a Festa e é parte da animação da quermesse; mordomo da fogueira, que prepara uma grande para ser queimada com explosões no último dia; mordomo do mastro, que prepara um retrato no mastro, também, para ser hasteado no penúltimo dia; os juízes de missa que ornamentam as novenas e as missas no curso da Festa; os noveneiros que respondem pela organização das novenas e das recepções dos religiosos em suas casas; equipes de preparação do almoço final; equipes de marketing e confecção de material de ornamentação e divulgação da Festa.

Reafirmamos que o trido responde pelo desfecho da toda a Festa ou da Folia. No ´penúltimo dia, pela manhã, é celebrada a missa do catireiro, quando são sorteados os responsáveis por aquele evento no ano seguinte. No outro dia, à noite, o Folião festeiro e o Imperador, com suas famílias, mais um grupo de anjos saem dentro de um quadro de suas residências até a igreja para uma celebração de missa. O Imperador apresenta-se coroado e carrega um bastão numa badeja de prata.

No domingo, pela manhã, no final da missa ainda da Festas são sorteados: Folião, Imperador e todos participantes da Folia de Rua do ano seguinte.
Hoje, essas Folias envolvem toda a comunidade de Planaltina, com a participação das três Paróquias.

 

03. Danças

Ao iniciar uma abordagem sobre as danças na região de Planaltina, procuro a licença para comentar o “Baile da Chita”, por moda criada para uma geração de jovens não ultrapassou o tempo dessa dita geração (1935 a 1950). Tinha ocorrência anual, próxima da data de São João, onde as moças todas vestiam chita (vestidos de chita). Depois participavam de um baile dançante com músicas de seresta. Primeiro usavam o espaço de atividades teatrais e de festa: “a casa”. Mais tarde, o evento ocorreu no espaço do aero club local.

A quadrilha, desde o início do século passado, sempre teve um espaço definido nas festas da Cidade. Assim,  os grupos de execução da dança foram sendo formados no tempo e em 1980, o grupo principal executava com mais 100 passos. O normal é que os colégios tenham seus grupos particulares. Ela é considerada uma dança de salão,  trazida para o Brasil no tempo do império. A quadrilha é uma dança alegre com a participação até de 16 pares.

A catira ou cateretê é uma dança de origem indígena, bate-pés e bate-mãos, foi introduzida nas festas, nas folias, nas rezas, primeiro através dos escravos nas suas atividades sociais. Os guias violeiros tocam e cantam uma moda contextualizada, bem-humorada. Os palmeiros, com palmas, sapateados ritmados e coreografia, acompanham trocando os seus lugares. Os movimentos palmeiros distanciando-se dos violeiros é chamada de “morro-a-baixo”, ao contrário, “morro-a-acima”. O sapateado, as palmas e a troca de lugares de dois palmeiros dá-se o nome de “escova”.

A catira é uma dança própria para homens, embora em Planaltina,  são formados grupos de mulheres. O grupo de acompanhantes ou palmeiro é chamado de “terno”, composto de 6, 8, 10 ou 12 pessoas. Dois ou três “guias violeiros”.

Há outras danças que deverão ser tratadas em outro momento.

 

04. Teatro e Via Sacra

Planaltina desde o início do século passado teve uma atenção especial com o Teatro. Antes chamava de ensaiar e apresentar um “drama”. O grupo de Virgílio Guimarães, que também organizava a área do esporte com o futebol. Depois o Grupo de José Mundim Guimarães com a participação do Maestro Alexandre Sicherolli. Mais tarde o Grupo de Iron Chave e Dona Clementina Lobo (Dona Chiqueza). Tivemos ricos depoimentos de João Lapa da Rocha, Sr José Guimarães Mundim (Inhozinho), Dona Alda de Melo e Dona Leonor de Melo.  Houve encenações organizadas por dona Jean (dona Gina), esposa do Pastor Dr. Franklin.  Mais tarde, bem mais tarde, Mario Castro, Preto Rezende e outros tantos grupos que estão em atuação na Cidade.

O Grupo Via Sacra tem hoje um trabalho importante, envolvendo entre atores e figurantes quase 400 pessoas com uma apresentação anual de “Domingo de Ramos”, “Ceia e Horto”, “Via Crucis”, “Ressureição”, “Via Sacra das crianças”, dentre outros que o Grupo é chamado a se apresentar.
Tratamos especificamente sobre o Grupo Via Sacra num livreto denominado “Paixão de Cristo em Planaltina”.
Hoje é sabido que o Grupo mobiliza cerca de 100 mil pessoas com os seus trabalhos e encenações.

 

05. Jogos de salão e brincadeiras

Das brincadeiras de roda e jogos de salão poderíamos citar uma centena deles. Mas delimitamos o nosso por citar alguns deles, por a maioria deles caíram em completo desuso. A Cartilha faz algumas referências para o registro histórico.

O “cipó queimado”, por exemplo, consiste numa roda de jovens que “de cócoras”, olhos fechados, aguardam o dono do cipó escondê-lo atrás de um que deverá persegui-lo até o seu antigo lugar. Se alcança-lo, o mesmo voltará para mais uma jornada. Não o alcançando, o novo dono repetirá as ações de seu antecessor. Ou,  ainda, o jovem perseguido ultrapassando o seu lugar terá a alternativa de correr para um pique definido, antes do jogo. Nessa corrida o perseguidor alcançando-o terá o direito de dá-lhe cipoadas.

Para quebrar a monotonia, de vez em quando, o dono do cipó pede aos participantes para entoarem um canto de roda e fazerem a roda girar. Ao término do canto, todos ficam abaixados e a brincadeira recomeça.



Outra brincadeira é  “Caí no poço”, que consiste numa roda de jovens, que depois
de entoarem um canto, param e dão início ou reinício da brincadeira.

Um jovem escolhido vai para o centro da roda e diz:
-- Caí no poço!
E todos respondem:
-- Poço!¿ Quem tira você¿
-- Meu amor que pode. – responde o jovem.
E todos continuam:
-- Deve tirá-lo de que maneira¿
Nesse momento, o jovem estabelece a prenda para a pessoa que será escolhida.
O mesmo indica a sua preferida que deverá pagar a prenda no centro da roda.
-- Quero um abraço apertado e um beijo. (É imposta a prenda)
Todos questionam:
-- Quem é esse seu grande amor¿
-- É Maria Luíza! – O jovem responde.



Maria Luíza vai ao centro da roda, paga a prenda, faz a roda girar e a brincadeira continua.

Hoje, muitas dessas brincadeiras e jogos de salão são realizadas com os alunos das primeiras séries nas escolas ou no seio das famílias, nas horas de folga.

Podemos, no momento, relacionar uma série dessas brincadeiras: “roda com a subtração de cadeira”, “salve o baquete”, “toma este anel”, “escravos de Jó”, “boca de forno”, “ciranda, cirandinha”, “ponte da aliança”, “pau no gato”, “minha direita está vaga”, “maré”, “acusado”, “pique-esconde” e as advinhas, tantas, como pagamento de prendas para quem comete erro.

 

06. “Causos” e Lendas

A partir dos depoimentos dos antigos, através entrevistas que realizamos, escolhemos alguns exemplos dispondo os resumos ou roteiros dessas lendas, desses “causo”:

Em Planaltina, idos de 1930 a 1940, havia um carro-de-bois, invisível, que passava da Lagoa da Piteira (entrada da Cidade) à saída de formosa. Muitos relatam que ouviram o barulho peculiar do carro e o aboio de uma pessoa que o guiava caminho a fora.

Uns acrescentam os nomes dos bois, pelo que ouviram nos aboios. Outros dizem, que de vez em quando o guia se impacientava com os bois... Outros, ainda, contam que o “carro encantado” passa aí em plena rua, que dava pra se ouvir o som dos rodeirões, o caminhar dos bois e o canto do carro. Eles contavam que podiam localizar, no espaço, cada momento da passagem de tal carro.

Outro “causo”, que se tornou lenda, encontra-se na história de “Romãozinho”. Contavam que havia um menino, muito danado que morava numa fazenda com os seus pais.

Um dia, a mãe encarregou o menino de levar comida para o pai, que trabalhava na roça. – Vai lá meu filho, leva esse embornal com a comida de seu pai.

No meio do caminho, o menino parou e comeu os pedaços e frango, que estavam naquele embrulho. Recolocou de volta os ossos restantes por cima e fechou a encomenda. Depois, continuou a sua jornada.

O pai ao receber aquele fardo, notou que do frango só havia os ossos. E questionou o menino:
-- Uai, meu filho, que foi que houve¿ Aqui só estão os ossos da galinha.

E o menino não pensou duas vezes e disse: -- Ora, pai... Aquele homem que vai todo dia, depois que o senhor sai, comeu a carne e a mãe colocou aí o que sobrou.

Depois dessa notícia, o pai desassossegou e foi embora pra casa. Em casa pediu explicações para a mulher, que afirmara ter sido mentira do Romão. Mas o pai não acreditou.

O pai deu uma surra cruel e maldosa naquela mulher, que ficara desfalecida... Mas no primeiro contato com o filho, ela disse que ele haveria de sofre durante o tempo que correspondesse as penas de uma galinha. O menino ouviu aquilo, sem dizer uma palavra e saiu...

Com esse fato, ninguém mais soube a notícia do paradeiro de Romão pelo interior de Goiás, inclusive em Planaltina.

A notícia que se tem lembrança do Romãozinho é:

Ele faz presente em alguns lugares, dizendo: -- Aqui é Romão!!! E dá uma gargalhada terrosa. E o resultado: casa apedrejada, esterco encontrado na comida, moças que aparecem maquiadas pela manhã, colares e brincos que nunca viram, porteiras que abrem e fecham de forma sobrenatural, animais que são afugentados nos pastos... Muitas outras estripulias são relatadas como obra de Romão, no interior do Estado.

Muitas histórias foram contadas como “causo”, ou como lenda, na região de Planaltina, a exemplo: “A mulher de branco”, “o homem da sela nas costas”, a bola de fogo”, “o ouro de urbano”, dentre outros.

 

07. Benzimentos

Os benzimentos, hoje, ficam restritos à área rural, nas fazendas. Mas não temos dúvida de que, quando a medicina e a farmácia não alcançam resultados satisfatórios, os benzimentos entram em ação.

Dois grandes benzedores, nossos informantes, que moraram em Planaltina, foram: Sr. João Reis Gomes e o Sr. Francisco José. Embora as informações fossem reservadas, tivemos a oportunidade desses contatos cheios e ricos de revelações. Aqui apresentamos três exemplos:



01. Carne quebrada – Faz-se um sinal da cruz com as mãos sobre
o local afetado e pronuncia-se:

“São Afonso qu’eu causo
carne quebrada, nervo torto
que é, qu’eu causo
Meu santo frutuoso”
Por três vezes...


E, do meio para o final do benzimento, as mão devem alinhar um novelo de linha.
Deixa-se no final de tudo a agulha enfiada no novelo. Essa agulha só poderá ser retirada
e o alinhavo desmanchado, quando o paciente nada sentir dos problemas em questão.
Termina-se o benzimento com o sinal da cruz.



02. Algum alimento ou objeto engasgado – Faz-se o sinal da cruz, com as mãos na
cabeça da pessoa, ou na direção do pescoço do paciente, pronunciando as palavras:

“Sinhô São Brás
 essa veia estreita rota
 lhe tirais esse engasgo da gota.”
Por três vezes...
Depois reza-se uma “Salve Rainha” até “Senhora do desterro”.
E termina o benzimento com um sinal da cruz.


03. Bicheira – Faz-se o sinal da cruz e pronuncia-se as palavras:
“Bicheira eu te benzo com o serviço de domingo e do dia santo. Assim como o
serviço de  domingo ou do dia santo não bota ninguém pra frente, ocê há de ir de volta...
Com Deus e a Virgem Maria... É de ir um a um, dois a dois, três a três, quatro a quatro,
cinco a cinco, seis a seis, sete a sete, oito a oito, nove a nove, oito a oito, sete a sete,
seis a seis, cinco a cinco, quatro a quatro, três a três, dois a dois, um a um, bicho nenhum...
Com Deus e a Virgem Maria.”


E termina-se o benzimento com um sinal da cruz.
Ao lado dos benzimentos aparece uma rica farmacopeia na história da cultura popular da região.  Longe dos recursos e da ciência, Planaltina viveu durante muitos anos, cultivando a flora medicinal, os chás caseiros, raizadas e xaropes.
Com isso :
1. Congestão, opilação – Chá da casca e das do pau-terra da folha larga;
2. Reumatismo, pontadas – Chá de sucupira branca;
3. Catarata nos – Sumo de lapa rosa;
4. Picada de Cobra – Amendoim roxo ou “cobreiro”; e,
5. Para segurar gravidez – Chá de três brotos de imbaúba.



Sr. Joaquim dos Reis Gomes, Sr Reis, era um dos maiores conhecedores da flora de
dos “remédios caseiros”. Há inúmeros receituários seus, acompanhados dos diagnósticos.
E, para finalizarmos esta parte do trabalho, acrescentamos que a comida, como
toda a alimentação, preparada e usada em Planaltina se estende por
uma região bem mais ampla do Estado de Goiás.

Neste trabalho, limitamo-nos a citar algumas especialidades e pratos, sem a
identificação dos ingredientes, medidas e modo de fazer.

Na região, são indicados: arroz tropeiro ou arroz com pequi; feijão tropeiro; quibebe
de mandioca e molho de verduras. Como sobremesa: arroz doce, laranja em caldas
ou doce de buriti. No lanche, manhã ou tarde: beiju de goma, biscoito de queijo,
biscoito ferventado com chá de erva-cidreira.

 

08. Artes plásticas e música

As artes plásticas são carentes de informações. O mais antigo registro tem como desenhista e pintor o Mestre João Lapa da Rocha, que executava os seus trabalhos e painéis nas paredes das casas residenciais por solicitação de seus proprietários. Isso na primeira metade do século passado. Em seguida, aparece Carlos Castro e Silva (Carlos pintor) com a elaboração de painéis e quadros, com todo o material preparado por si mesmo e era conclamado para execução de suas obras pelos comerciantes e por responsáveis dos eventos da Prefeitura.

Nesse campo, enumera-se também Antenor Silva com mini esculturas em “mamas de porca”, com reconhecimento nacional.

Recentemente cita-se no âmbito das mini esculturas o jovem Adeilton, que elabora as suas obras com palitos.

Na área das tapeçarias contam duas artistas com os trabalhos divulgados e reconhecidos: Maria Beatriz de Planaltina já falecida, com a participação de várias exposições individuais e coletivas. Ainda, entre os tapeceiros, cita-se Tereza Marra com várias exposições e uma escola para o ensino de suas técnicas e a promoção para o aparecimento de novos artistas.

Mais recentemente, aparecem dois artistas plásticos com desenhos e pinturas (óleo sobre tela): Imelda de Melo Campos com um trabalho realista e algumas vezes retratando a natureza; e Mario Castro com algumas exposições individuais e outras tantas coletivas no Distrito Federal e Goiás. Aparece com a participação de um Salão Nacional de Arte e Alguns Salões Regionais. Executa a sua arte com desenhos a bico de pena e óleo sobre tela. Lançador do estilo meísta no Distrito Federal.

Ao tratar sobre a música temos o registro da existência de uma Banda de Música local, idos de 1892, que executa o hino nacional várias vezes, por ocasião da inauguração do Paço Municipal e comemoração de elevação do Distrito à categoria de Vila.

Mais tarde, tem-se o registro da criação da Banda “6 de outubro”, com a participação de Clarindo Augusto e sob a maestria de Alexandre Sicherolli, cujos participantes, na sua maioria, eram funcionários da Empresa Bevinhatti, Salgado e Cia.

Na década de 30, do século passado, temos o registro da presença de vários grupos de seresta:  União Planaltinense, e outros com quatro, quatro e dez músicos. Nesse tempo a Banda Loca tem a denominação de Santa Cecília e para por vários maestros: Cassimiro de Melo, Edcino Louly e Otaviano Guimarães.

Esse assunto receberá um tratamento detalhado até os dias atuais num trabalho nosso, com o título: “Planaltina, destino e memória”.

 

09. Artesanato e Literatura oral

No campo do artesanato encontramos a tapeçaria produzida pelas irmãs com uma consideração internacional, já sendo utilizada como modelos de cartões postais de Planaltina.

Peças e móveis em palhinha e vime. O grupo que produz tem como maior artesão o jovem Laureano. Sua família participa do processo de produção e o resultado: cadeiras, caixas, guarda-roupas e armários esportivos.

Dona Maria Apolinária e sua família constituem o grupo de maior produção de arranjos com folhas, flores e galhos secos, usando como fonte os cerrados. Há mais de quinze anos, esses artesãos concorrem com grande parte do que se apresenta nas lojas do Distrito Federal, Catedral (vendedores ambulantes) e Torre de Televisão.

E, finalmente, além de citar a existência da “Casa do artesão”, localizada na cadeia antiga, enumeramos: peças em cobre e alumínio fundido, rendas, colchas de retalhos, tecidos ainda fabricados no tear, objetos feitos em cerâmica, brinquedos feitos de madeira, flores ornamentais, peças em macramê, peças em vidro, dentre outros.

Na literatura oral encontramos alguns repentistas como Zuzinha Alves e outros de que se tem notícia: Tira-Teima e Antonio Lalô (falecidos).

E oferecemos como informação o acontecimento do Testamento do Judas, que era preparado anualmente e lido (em público) no dia de Sábado de aleluia.

 

10. Casarios e monumentos urbanos

O visitante quando chega em Planaltina, pela entrada antiga, percebe a presença de uma série de casarios mostrando os seus laços de ligação com a história, que antecede Brasília.

Na Praça Salviano Monteiro, encontramos alguns exemplos de casarios do início do século passado, estilo colonial sem ornatos. Assim: A casa do Sr. Gastão Salgado, o Casarão Hotel, a casa do idoso, a casa da D. Nilda Campos, a casa do Paço Municipal (com algumas alterações – na esquina), a casa de Dr. Hozanah Guimarães e a Casa do Museu.

Na Praça do Largo da Igreja, temos: a igrejinha antiga, a casa de D. Iaiá e  a casa do Sr. Zé Baiano.

Na Rua Salvador Coelho, aparecem: a loja Grande, a casa do Sr. Joviano, a casa que fica em frente a do Sr. Sampaio e bem frente a essa que citamos.

Na Rua 15 de Novembro, encontramos: a casa de João Dutra, a casa do Sr. Jacinto e a casa usada como creche infantil.

Na Rua 1º. de maio, podemos citar: a casa de D. Tilinha, a casa do Sr. Inhozinho e a casa de D. Eliacena (com algumas alterações).

Perdoe-nos a citação carinhosa dos apelidos, pois achamos que esses mesmos facilitarão as localizações para os leitores mais jovens.

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ISSN -  2447-8601