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Uma Pedra no Caminho da História de Planaltina
Por Mário Castro |
Estudar, tratar ou opinar sobre o que
está próximo é fácil. Mas quando se busca
o que encontra-se mais distante no tempo, aí, os obstáculos
são comuns e às vezes quase intransponíveis.
Há uma diferença fundamental entre investigar
e tratar as informações para obter a comprovação
dos fatos, e argumentar sobre o que já se conhece para se ter
uma opinião de bom senso sobre esses fatos. Assim, há
investigadores críticos e aproveitadores de oportunidade.
O presente ensaio comentado
e literário da história de Planaltina persegue o caminho
da informação comparada, matéria de muitas entrevistas
e levantamentos sob argumentação criteriosa para transmitir
ou mesmo opinar.
A história de Planaltina, no período de 1892 à
inauguração de Brasília, mostra que a sua história
inteira acha-se compreendida em duas etapas distintas: antes e depois
do lançamento da Pedra Fundamental da capital Brasília.
A ironia nos conduz ao
termo “pedra”, que poderia conter a ideia: “não
ficará pedra sobre pedra”, aqui ele é o marco
que representa a construção de uma nova e magnífica
obra de milhares de outras pedras; noutro exemplo: “a pedra
o caminho” de Drummond revela a pluralidade de significados
e de sentimentos. Ali, a pedra-obstáculo nas medidas da metáfora
ganha os valores da preciosidade podendo desvelar sem sigilo: amores
frequentes, amigos ou inimigos, momentos felizes ou tristes, expressão
frequente de que a vida acontece superando dificuldades comuns. A
nossa Pedra fundamental repete as luzes de Drummond no caminho da
história de Planaltina.
Não há
como iniciar este ensaio sem um retorno no tempo. O Sítio
de Mestre d’Armas tem real. A sua instalação volta
para o acontecimento da pensão e da oficina do ferreiro no
final do século XVIII. Outros proprietários ou pequenos
agricultores puseram suas moradas em terras próximas de tal
oficina. Há uma lista de dizimeiros na representação
dessas pessoas na “História da terra e do homem no Planalto”
do historiador Paulo Bertran.
Sobre os documentos
antigos, Bertran dá contas e registros de fragmentos e sesmarias
do Sítio de Mestre d’Armas:
A – Sesmaria de Manoel Joaquim e Castro Souto Maior. A sua localização
indica terras de Planaltina, sendo a área compreendida entre
o rio Tigre, Maranhão, Lagoa Formosa e terras da fazenda Bonsucesso;
B – Sesmaria de Antônio Gomes de Almeida, localizada em
terras à leste do Vale do Amanhecer, núcleo rural de
Taquara e parte do setor urbano da Cidade;
C – Sesmaria de Manoel Moreira, sem requerimento de registros,
localizada em terras da fazenda Sálvia, onde encontra-se instalado
o Colégio Agrícola de Brasília;
D – Sesmaria de Domingos Rodrigues Alves, localizada em terras
do morro Canastra, Sobradinho e Fercal;
E – Sesmaria de Bernardino Joaquim de Souza Machado Canabarro,
localizada em terras de Lagoa Bonita, Embrapa e Sarandi, confrontando
com as terras das fazendas Mestre d’Armas e Sálvia; e,
F – Sesmaria de Bento Nicolau de Oliveira, localizada entre
o rio São Bartolomeu e o córrego nos núcleos
rurais Stanislau e Tabatinga.
Na confrontação
dessas sesmarias e no acompanhamento de seus memoriais descritivos,
há, nessa área, a repetida citação da
existência de um povoado de Barreiros. Depois de exaustiva busca
e verificação, o presente estudo indica como localização
do referido povoado a fazenda Barreiros, nas proximidades do córrego
Cocal, e, outra na área do Parque das Águas Emendadas.
Inaugurado o arraial de São
Sebastião de Mestre d’Armas a 20 de janeiro de 1811,
o Povoado caminhou o seu desenvolvimento de forma lenta, participando
de uma disputa de comandos entre Santa Luzia (Luziânia) e Formosa
da Imperatriz (Formosa). As lideranças locais reafirmaram através
de três abaixo assinados a preferência pelo comando de
Luziânia. E essa luta termina somente em 1892 com a elevação
do Distrito de Mestre d’Armas (1859) a condição
de Vila.
Com a instalação
da Vila e a passagem da Comissão Cruls, o Povoado começa
a ter vida própria. Os Conselhos Municipais e Intendências
aprovam a denominação de ruas e praças do vilarejo:
Largo da Igreja – Largo da Matriz de São Sebastião;
Rua do Paço – rua 15 de novembro; rua de Simião
Gomes – rua 1 de Junho; rua da Aula – rua 13 de maio;
e rua de João Quirino – rua Bernardo Antonio. Nessa
última década do século, em 1893, foram criados
o Fórum Civil, o Conselho de Jurados, a Aula de Primeiras Letras,
a Cadeia Pública e o Paço Municipal.
Nesse tempo, havia
48 casas cobertas de telhas, conforme levantamentos realizados em
1969, através de entrevistas com moradores antigos e confirmados
com o estudo comparativo posteriormente:
01. Maria Eduarda Pereira,
ao lado da casa que foi de Dr. Hozanah, no mesmo alinhamento –
Nessa época, havia um beco ligando com a rua de Baixo;
02. Coronel Salviano Monteiro (1904), que foi do Sr. Affonso Coelho
da Silva Campos, residência e armazém, hoje funciona
com Museu histórico e Artístico de Planaltina;
03. Coronel Valeriano Rodrigues de Castro, depois Viriato de Castro
e depois Altino de Castro, demolida, em frente a casa do Sr. Zé
Baiano na praça da Igreja;
04. Benedito Salgado e D. Rita, como residência e Aula, hoje
funciona como Escola do ensino fundamental;
05. Benedito Ferreira das Neves, onde morou Dona Maria dos Anjos,
em frente à igreja Matriz, na rua do Mestre d’Armas;
06. Sr. João Luiz, rua 1 de junho, onde morou José Ferreira
(Zé carroceiro);
07. Sr. Francisco de Melo Pinto (Bichinho), rua 1 de junho e travessa
Goiás;
08. Dona Maria de Romana, rua 1 de Junho;
09. Professor Tibúrcio Gomes Rabelo, residência e Aula,
depois Bento Inácio Coelho, rua 1 de Junho, ao lado da casa
de Dona Maria de Romana;
10. Sr. Ezequiel e Dona Joana, em frente à casa de Dona Maria
de Romana, rua 1 de Junho;
11. Sr. Félix Gomes Rabelo e Dona Sinhalta, viúvo casa-se
com Dona Maria. Mais tarde, Dona Maria fica viúva e casa-se
com Joaquim Nunes, rua 1 de Junho, onde hoje é asfalto da rua
que desce para a casa de Pompílio Marques;
12. Sr. Gabriel Salgado – casa dos lagoeiros, morou antes o
Sr. Horácio de Almeida Campos, na praça da Igreja Matriz;
13. Sr. Francisco Alves da Costa – casa dos lagoeiros –
Coletoria, mora hoje o Sr. Edgar, na praça da Igreja Matriz;
14. Herdeiros de João Gomes Rabelo – casa dos lagoeiros
– hoje mora Dona Oscarina;
15. Sr. André Gomes Rabelo e Dona Clara, onde morou o Sr. Romão
Gomes Rabelo, Avenida Floriano Peixoto;
16. Sr. Affonso Coelho da Silva Campos e Dona Cassiana, depois, Dona
Ditinha, rua 15 de novembro e rua 13 de maio;
17. Sr. Hermano Claro, em frente a casa do Sr. Balbino Claro, rua
15 de novembro, Creche;
18. Sr. Balbino Claro – Casa de Dona Franquinha, hoje mora o
Professor Pau Pereira, rua 15 de novembro;
19. Dona Rosalina de Almeida Campos – sobradinho – em
frente à casa do Sr. Antonio Jardim, rua 13 de maio;
20. Dona Mariazinha de Joãozinho Dutra, onde morou o João
Dutra Filho, rua 15 de novembro;
21. Sr. Teodoro de Sousa, ao lado da casa do Sr. João Dutra,
fundos, onde morou o Sr. Manuelzinho, rua 15 de novembro;
22. Sr. Franco, em frente a antiga casa do Sr. Dustan Cardoso, rua
15 de novembro;
23. Sr. Onesíforo Carlos de Alarcão, antes funcionou
com escola municipal, rua 15 de novembro e praça da República
(praça Cel. Salviano);
24. Dona Rosalina de Secundino, terceira casa depois de Onesíforo
Carlos, nesse mesmo alinhamento na rua 15 de novembro;
25. Sr. João Carlos de Alarcão, depois o Sr. Salvador
Ribeiro de Freitas e Dona Gabriela de Guimarães Freitas, residência
e comércio, hoje é a casa do Idoso, travessa Goiás
e praça da República (Cel. Salviano)
26. Sr. Epaminondas da Silva Campos, em frente à casa do Idoso,
residência e comércio, travessa Goiás e praça
da República (Cel. Salviano);
27. Sr. Sebastião de Souza e Silva, depois Paço Municipal,
morou o professor José Mundim Guimarães (Jucão),
morou o Sr. Henrique de Souza e Silva, hoje o Sr. Umberto, praça
da República (Cel. Salviano) e rua Senhor Bom Jesus dos Passos
(Salvador Coelho);
28. Dona Ângela, canto da praça entre o Hotel “Casarão”
e a casa do Sr. Epaminondas;
29. Sr. Manoel Ribeiro (Neco), residência e comércio,
depois pensão do Sr. Bernardo e Dona Ribeiro, rua 29 de fevereiro
(Cel. João Quirino);
30. Sr. Iron Chaves e Dona Chiqueza, residência, depois morou
Dona Nedy e o Sr. Sampaio rua Senhor Bom Jesus dos (Salvador Coelho)
e Eugênio Jardim;
31. Sr. Leonel de Campos e Dona Ana Ribeiro, residência, depois
o Sr. Cassimiro e Dona Elizena, hotel, Dona Benedita e o Sr. Eurico
del Fiacco, rua 29 de fevereiro (Cel. João Quirino) e travessa
Goiás;
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32. Sr. Alexandre Dumas Salgado, residência e “loja Grande”
e na esquina, em frente ao Sr. Joviano, a “casa do sal”,
que transformou-se na Sede de uma Associação Rural,
Rua Bom Jesus dos Passos (Salvador Coelho);
33. Sr. Salvador Coelho da Silva Campos, depois Sr. Epaminondas e
Dona Etelvina, hoje hotel “Casarão” de Dona Geralda,
praça da República (Cel. Salviano);
34. Paço Municipal, morou o Sr. Aurélio Mundim e Dona
Santa, hoje o Sr. Ronaldo de Freitas Guimarães;
35. Sr. Lauro Gonçalves (Laro) e Dona Cota, residência,
onde mora a Dona Carola, rua Senhor Bom Jesus dos Passos (Salvador
Coelho);
36. Dona Rita da Conceição (Dona Iaiá), praça
da Igreja Matriz e rua 13 de maio;
37. Sr. Francisco Ferreira, loja, depois o S. Joviano de Souza e Silva,
rua Benjamim Constant e rua Bom Jesus dos Passos (Salvador Coelho);
38. “A Casa” para apresentação de peças
teatrais e festas, hoje Sr. Zezinho e Dona Alzira Torres, rua Senhor
Bom Jesus dos Passos (Salvador Coelho);
39. Dona Merência, em frente à casa do Sr. Affonso Coelho,
rua 13 de maio e rua 15 de novembro;
40. Sr. Antonio Gonçalves e Dona Cena, depois morou o Sr. José
Guimarães Mundim (Inhozinho) e Dona Tota, rua 13 de maio e
rua de Carolino (Hugo Lobo);
41. Sr. Victorino Bevinhatti e Dona Ana de Souza e Silva, oficina,
confeitaria e residência, em frente à Loja Grande do
Sr. Alexandre, rua Senhor Bom Jesus do Passos (Salvador Coelho);
42. Sr. Carolino de Souza Só, residência e manipulação
de remédios, rua de Carolino (Hugo Lobo);
43. Sr. Alexandre Sicherolli, numa casa ao lado de Victorino Bevinhatti,
rua Senhor Bom Jesus dos Passos (Salvador Coelho);
44. Sr. José Alves da Costa, onde morou o Sr. Antonio Jardim
e Dona Sofia, rua 13 de maio;
45. Sr. Venço pai de Waldemar de Dona Belarmina, onde mora
Dona Tilinha, rua 13 de
maio e rua de Carolino (Hugo Lobo);
46. Dona Avelina de Almeida Campos e Salvador Coelho da Silva Campos,
funcionou como correio, ao lado da Cadeia pública, rua 15 de
novembro;
47. Sr. Onesíforo da Silva Campos e Dona , funcionou como pensão,
ao lado da casa de Dona Avelina, rua 15 de novembro;
48. Igreja Matriz de São Sebastião, 1811, contam os
antigos que foi um pequeno orago coberto de palha, taipa e barro,
alguns anos depois, construíram a nave da igreja com as paredes
largas (como a igreja atual), coberta de telhas – finalmente,
1880, construíram as sacristias laterais, altares barrocos
e um elevado de madeira no interior para acomodação
do coro e das autoridades.
As telhas canaletas eram
produzidas artesanalmente e tornavam-se caras. Nessa época
havia quatro Cerâmicas (fábricas), próximas do
Povoado que fabricavam potes, panelas, jarras e telhas: Duas dentro
do Parque das Águas Emendadas, uma no sítio de Tomás
Caldeira e outra no sítio Taboca; uma terceira no sítio
que foi do Sr. Otaviano Guimarães, abaixo da passarela; e,
a última nas terras de Pompílio Marques. Instalações
precárias e fornos para queimar a um número reduzido
de peças. O transporte era feito com os carros de bois.
Deve-se dizer que a Cadeia pública
encontrava-se numa casa na rua 15 de novembro, em frente a do Sr.
Franco, que era chamada de “o tronco”, com algumas celas
e um esteio de aroeira no pátio para a execução
dos sacrifícios. Esse servia para amarrar e chicotear na punição
de presos por algum crime grave, ou para repreender algum escravo
que cometesse alguma atrocidade contra o seu senhor. Com a abolição
da escravatura e o Povoado na condição de Vila, “o
tronco” foi transformado em “Cadeia pública”.
O período histórico
de 1911 a 1920 é considerado como o de maior desenvolvimento
da Vila de Alta-mir. Pois se mudara a denominação da
Vila a partir de 1910, sendo que 1917 uma nova mudança e o
Povoado passa a se chamar Planaltina. Nesse tempo, os intendentes
foram Cel. Salviano Monteiro, Victorino Bevinhatti e Sebastião
de Souza e Silva (Cel. Sebastiaozinho), nessa ordem. As razões
mais fortes e indicadas para o surto de progresso foram: a vinda da
futura Capital no processo de interiorização; a autonomia
dos intendentes com ligações diretas com a Presidência
da Província; e, a criação e instalação
da Empresa Bevinhatti, Salgado e Cia. Victorino Bevinhatti veio para
Planaltina com a perspectiva da mudança da Capital Federal
para o interior de Goiás. Aí, nesse lugarejo promissor,
ele monta uma fabriqueta de selas e sapatos, além de uma confeitaria
e produção de festas.
Mais tarde, Victorino
cria uma sociedade com Alexandre Dumas Salgado e Sebastião
de Souza e Silva com as seguintes proporções de valores
de capital:
Sócio $
Victorino 173.037$995
Alexandre 163.739$845
Sebastião 50.000$000
Com uma distribuição de cargos e funções
como segue:
Alexandre Sicherolli Gerente das oficinas de selaria e sapataria
Manuel Salgado Gerente do Curtume
Leonel de Campos Gerente de Loja
A Empresa empreitou, com a Intendência Municipal, a abertura
da estrada de rodagem de Planaltina a Ipameri e 1920. Para o pagamento
da grande obra foi feito o recolhimento de doações e
a realização de festas beneficentes, conforme a Ata
de sua inauguração.
A 13 de julho de 1921,
com a inauguração do trecho de estrada que ligava Planaltina
à Luziânia, o Povoado considera como grande vitória
principalmente para o comércio local. Pois, longas eram as
viagens. Às vezes, o deslocamento de Planaltina à Luziânia
demorava vários dias, épocas de chuva. O transporte
de cargas de mercadorias e passageiros era realizado no “lombo
do burro”, cargueiros ou carro de bois. Os carros atolavam-se
na lama e a viagem tornava-se um programa de grandes obstáculos:
capas de chuva, alguma morada, carne seca e rapadura, quitandas nas
latas, paçoca ou farofa de frango.
A rodagem foi um grande alívio!
O relatório Cruls
transforma-se num sonho vaporoso, num projeto sem as dimensões
do tempo. Algumas vozes mudancistas da Vila ficavam esvaziadas com
a demora interminável: Viriato de Castro, que era considerado
pelo pai como conhecedor da região, experimentara como guia
da Comissão, a certeza de que a Capital seria trazida para
essas paragens; Carolino de Souza e João Gomes Rabelo (de Sobradinho),
adolescentes, companheiros de Viriato, assistiram e participaram das
revelações dos cerrados nas pesquisas realizadas pelos
membros da Comissão Exploradora de Cruls; e, outros mudancistas
do lugar que buscavam atingir concretamente o crescimento da Vila,
utilizando-se do mesmo ideário.
No plano da política
nacional, a interiorização da Capital era considerada
como um mal por desmantelar a máquina administrativa do país
e desagregar os interesses particulares. Ou como necessidade de evolução
da marcha para o Oeste e da consolidação dos limites
e domínio do território do Brasil. Nessa corrida de
contradições destacaram-se Americano do Brasil e Rodrigues
Machado, mudancistas, propunham a construção da Capital
no interior, no Planalto, no prazo de dez anos. Embora o ex-presidente
da república, quando comandava os destinos do país fosse
contra a interiorização, aprova como Presidente da Comissão
de Constituição um substituto do projeto de Americano
e Rodrigues. Isso permitiu que o Presidente Epitácio Pessoa
firmasse o decreto N. 4494, de 18 de janeiro de 1922: “Determina
que a pedra fundamental da Capital Federal seja lançada no
planalto de Goyaz, no dia 7 de setembro de 1922 e dá outras
providências.”
Contratada a Empresa
da Estrada de Ferro de Goiás, ficava o seu Presidente Engenheiro
Balduino de Almeida autorizado a tomar as necessárias providências
para o lançamento. Engenheiro tinha os referenciais:
entre os Córregos de Sobradinho e São Bartolomeu. Mas
com o auxílio das autoridades de Planaltina (Intendência
e Conselho Municipal) foi escolhido o lugar, com largueza de espaço.
Uma elevação da Fazenda Catingueiro recebe a denominação
de Morro Centenário.
Nessa época, ocupavam a
Intendência os senhores Sebastião de Souza e Silva, João
Carlos de Alarcão e Félix Gomes Rabelo. O
Conselho Municipal era composto com os senhores: Salviano Monteiro
Guimarães, Alexandre Dumas Salgado, Francisco Alves da Costa,
Tibúrcio Gomes Rabelo, José Deodato Gonçalves,
Deodato do Amaral Louly e João Batista da Cunha.
A Pedra Fundamental
viera de Ipameri, em blocos de cimento armado, para ser montada e
instalada em Planaltina. O transporte de Ipameri para Planaltina fora
feito em 6 caminhões e 9 automóveis “Ford”.
Ao meio-dia de 7 de setembro foi lançada a Pedra Fundamental,
da futura Capital da República. A ata de lançamento
contém 92 assinaturas, mas os antigos contavam que a solenidade
ocorreu com algumas centenas de pessoas.
No discurso de lançamento,
pronunciado por Evangelino Meireles, consta que a ideia de colação
da Pedra basilar, da futura Capital, partiu do pesquisador lusiano
Gelmires Reis ao grande Deputado Federal Americano do Brasil, aprovado
em 1921. O Lançamento da Pedra Fundamental trouxe aos planaltinenses
a certeza da construção da Capital. Mas houve uma torcida
“do contra” que com o tempo tentava desmotivar. Tirar
a crença numa realidade “impossível”. “Cerradão
de cupim e meu Deus, onde já se viu?!”
Esse lançamento
da Pedra fundamental de Brasília, à 7 de setembro de
1922, no morro Centenário, comemora 100 anos da Independência
do país. Mas acima de tudo, confirma o surgimento de novos
destinos para a Vila de Planaltina. A Pedra, afinal, parecia ser um
mero sinal da disposição do Governo Federal de realizar
ou executar um preceito constitucional desde 1892. Assim, alguns políticos,
com esse lançamento, abrem as discussões sobre o assunto
polêmico, com a certeza de que a transferência de Capital
acarretaria na valorização de novas relações
entre os Estados da Federação e o Governo Central.
A estrada até
Ipameri, que independia do lançamento da Pedra, após
o ato de 7 de setembro, se somou à mesma ganhando importância
para a Empresa Bevinhatti, para o Povoado, para o Estado de Goiás
e como caminho de recondução nacional. A Empresa Bevinhatti,
Salgado e Cia. faz novos investimentos para o seu crescimento comercial:
compra um ônibus como meio de transporte de passageiros e mercadorias
(o primeiro a circular no Estado de Goiás); cria uma filial
da Empresa, com os mesmos propósitos já realizados na
matriz, em Ipameri; amplia a capacidade de produção
de energia elétrica de sua usina hidroelétrica; cresce
o seu quadro de funcionário e amplia a produção
do curtume, da fábrica de artefatos de couro e da charqueada.
Em 1925, distribui energia elétrica para toda a Vila; O time
de futebol, Planalto Central Futebol Clube, tem duas equipes de bons
níveis: “papagaios” e “urubus”. A partir
dessa Empresa cria-se uma nova Banda de música, sob o comando
de Alexandre Sicherolli, denominada e “6 de outubro”.
E com a mesma finalidade traz o Sr. Clarindo Augusto de Formosa como
maestro auxiliar.
Havia em Planaltina outra
Banda de música, que mais tarde recebe a denominação
de “Santa Cecília”. A 23 de dezembro
de 1894, por ocasião da inauguração dos retratos
do Mal. Floriano (ex-Vice Presidente da República) e do Doutor
Prudente de Morais Barros (Presidente da República), num encontro
festivo e solene do Conselho Municipal, Intendência e Comunidade.
O Secretário do Conselho registra o fato, em seu Livro de Atas,
dizendo: “por ocasião foram queimados, na porta do paço
do Conselho Municipal, muitos fogos artificiais, e a pequena Banda
de Música do lugar tocou repetidas vezes o Hino Nacional da
República.” Conforme o livro de Atas do Conselho Municipal
de 1894. A euforia e a civilidade fundiram-se na verdade e existência
de uma Banda, que fizesse soar a sensibilidade mestrediarmense.
A Banda de música,
no interior, é motivo de alegria da comunidade. Os eventos
sociais, cívicos, políticos, religiosos ou desportistas
contam com a Banda. Em toda a história de Planaltina, as duas
festas religiosas mais concorridas eram a de São Sebastião
(padroeiro) e a da Folia do Divino Espírito Santo. Em ambas,
a Banda de música aparece.
Após o lançamento,
dentre as que acreditavam, havia os mais ardorosos. A convicção
e o ardor de Deodato do Amaral Louly, através da S/A Planalto
Central de Goiás, o levaram a um grande empreendimento. Como
proprietário de terras próximas da Pedra conseguiu a
aprovação do projeto Planaltinópolis, a partir
de 2 de abril de 1925. Instalou escritórios, em quase todas
Capitais brasileiras, para a venda dos lotes de terreno. E foi com
grande sucesso.
Houve mais dois loteamentos
em Planaltina: a partir de 5 de abril de 1925, “Vila Brasil
Central”, de Francisco Juliano, e, a partir de 1926, “Platinópolis”,
localizado próximo à Fazenda Monjolos. Em Luziânia,
houve a partir desse tempo loteamento bem sucedido: “Planópolis”. Em 1926 o norte-americano Dr. Franklin
Graham, ministro da IGREJA PRESBITERIANA, passa por Planaltina, e
cria um foco de pessoas crentes nessa “nova” modalidade
de religião. Com esses, Dr. Franklin criou a 1ª a primeira
Igreja Presbiteriana de Planaltina. E seguiu viagem para o Mato Grosso
e Bolívia.
Com o lançamento
da Pedra Fundamental, Dr. Franklin veio residir com a família
em Planaltina. Sua esposa Jean Porter Graham foi, de fato, uma luz
para a juventude planaltinense. Compram uma casa de residência
à Avenida Goiás e constroem um templo e escola à
Rua João Quirino.
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“Doutor
Franquilin”, como era carinhosamente chamado, tinha uma prodigiosa
e piedosa sabedoria cristã, com o costume de dar remédios
aos doentes, obtendo a cura de muitos males.
“Dona Gina”,
como era chamada a sua esposa, criou um local, grande espaço,
para a divulgação de “jogos de salão”,
brincadeira, cânticos e atividades desportivas. Trouxe para
a comunidade um jogo parecido com o “base ball” chamado
de “bety”.
Em 1926, criaram a Escola
Evangélica, depois denominada “Franklin Graham”,
em homenagem ao seu fundador. Funcionou até 1953. Em 1924,
o fato mais marcante foi a passagem da Coluna Prestes por Planaltina.
A caravana com mais de 600 homens tentava a pregação
do Comunismo. A criação da idéia de um país
mais justo, mais fraterno, sem os ajustes e “extorção”
da política do “Café com leite”.
Pouca distância
atrás, outra caravana, a dos “terríveis”
ou “endiabrados” que se dizia parte da Coluna Prestes.
Essa caravana era composta por mais de 200 pessoas. O que ficou para
os habitantes do interior foi uma visão destorcida e catastrófica.
A Vila fora apanhada de surpresa.
A Coluna Prestes chegou na região de Planaltina pela antiga
estrada real. Esta estrada foi transformada em rodagem até
Ipameri pela Empresa Bevinhatti, Salgado e Cria em 1921. Estrada por
onde teria passado o comboio do Engenheiro Balduíno com a Pedra
Fundamental em 1922.
A Coluna chegou à
Cidade em 1924. Final do ano. Na verdade, a Coluna empreendia um movimento
largo, organizado e avassalador. Houve quem dissesse, milhares de
pessoas. Uma multidão! Um grupo de guias batedores, levando
informações, bem na frente. Logo atrás, o Comando,
os líderes e seguidores ou rebeldes, aliados por vários
motivos: alguns alimentados com as lembranças da “Revolta
de Copacabana”, “Movimento de revolta tenentista”,
“insatisfação com os baixos saldos”, “desgaste
da política do café com leite” ou “inconformismo
com a política de Artur Bernardes”. Todos unidos pelos
novos ideais socialistas. Adiante, os simpatizantes incorporados,
hasteando a bandeira vermelha, Brasil adentro. Depois, a certa distância,
um grupo de desordeiros aprontava e maltratava o povo. Os relatos
colhidos com os antigos dão uma imagem desencontrada do feito,
porque é notório de que a bandalheira e a crueldade
correspondem aos atos da 2ª caravana que acompanhava a Coluna.
Em 1929, foi lançada
a Pedra inicial, da construção da Igreja Matriz Nova,
pelos Freis Henrique, Benevenuto e Boa Ventura. Porém, a idéia
de construção e acompanhamento da obra deveu-se ao Frei
Aleixo. O mestre-de-obras responsável pelos serviços
foi o Senhor Simão. Além dos empreendimentos educacionais,
esse período termina com a criação do primeiro
jornal de Planaltina: “Jornal Alta-Mir” – 1930.
Esse mensário
foi mantido em circulação durante três anos. Órgão
de divulgação e formador de opinião, o “Alta-Mir”
tratou de assuntos polêmicos; abria espaço aos poetas
e prosadores do Planalto Central. O Jornal era dirigido por Alexandre
Dumas Salgado e Teófilo Neto (Teoneto). A equipe de redatores
compunha-se de: Teoneto, Abrão Isac Neto (Abrãozinho),
Cacildo e Gastão Pereira Salgado (Gasal).
Conforme entrevistas
feitas aos antigos e monografia elaborada por José Mundim Guimarães,
Planaltina apresenta-se com: duas Escolas: grupo Municipal Brasil
Caiado e a Escola Americana ou Colégio Evangélico; duas
Bandas de Música: “da Vila” e a “6 de outubro”;
Bevinhatti Salgado e Cia. – Fábrica de calçados,
selaria, curtume, charqueada e transporte; Paço Municipal,
Correios, Conselho Municipal, duas igrejas: Católica Presbiteriana,
Armazéns, Lojas, Açougues e Vendas.
A situação
da Igreja Evangélica e a Escola Americana atingiram os quadrantes
da Vila de Planaltina. Os jogos de salão, hinos de louvor ganhavam
terreno. Era comum na área rural, os jovens se agruparem nos
momentos de reza, mutirões ou reuniões e festas, onde
se dançavam a quadrilha, a moda rancheira, polka ou catira.
Na área urbana, os jovens se mobilizavam para os “Bailes
da Chita”, serestas e teatro realizados na “Casa”
(Rua Cel. Salvador Coelho), serenatas e festas do Judas, “lapinhas”
ou quermesses no Largo da Igreja. A comunidade católica abalou-se
com o fato: a prática da Missão Presbiteriana.
Incentivada pelas fieis
da Igreja Católica, o padre dominicano Frei Benevenuto Casabant
e Frei Boa Ventura criam a Escola Paroquial “São Sebastião”.
Sua equipe era composta de Gabriela Guimarães Freitas (Diretora),
Francisca Clementina Salgado e Dulce Guimarães. Tempo depois
houve a incorporação de Amélia Lopes, Flávia
Carneiro e Zélia Salgado. Essa Escola oferecia, além
do curso primário, o curso complementar. Desse curso citam
professoras como Dona Benita de Jesus, Nilda Silva Campos, Áurea
Gonçalves e Padre Antonio Marcigaglia. Dentre as professoras
que trabalharam na Escola Paroquial cita-se também, Geralda
Gonçalves.
A 2 de março de
1938, conforme Decreto Federal no 311, a Vila de Planaltina foi elevada
à categoria de Cidade.
Nesse ano, alguns melhoramentos fizeram parte dos primeiros projetos
da nova Cidade: melhoria na distribuição de água;
construção do Campo de aviação; construção
da estrada de Planaltina-Corumbá; construção
do coreto da Praça Salviano.
Depois de tudo isso, a construção de Brasília
veio marcar os destinos de Planaltina com chave de ouro.
Através desse
breve ensaio comentado, mostramos que a Pedra fundamental de Brasília
determinou dois momentos da história de Planaltina: antes,
um porto na solidão dos cerrados, nascentes dos grandes rios
do país, cruzamento das trilhas e caminhos do ouro, do carregamento
das tropas e boiadas e dos viajantes ou retirantes ciganos em busca
de novos destinos; depois, o vislumbre de um sonho coletivo e ermo,
cercado de motivação para construir com urgência
o progresso e com o grande desejo de sorver do ouro e dos benefícios,
no encontro de largas estradas, na construção do porto
das grandes decisões nacionais.
Mário
Catro, prof. da SEDF, contemporâneo de Paulo Bertran,
é um dos historiadores pioneiro na pesquisa sobre a história
da região.
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