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Uma Pedra no Caminho da História de Planaltina
Por Mário Castro    

 

Estudar, tratar ou opinar sobre o que está próximo é fácil. Mas quando se busca o que encontra-se mais distante no tempo, aí, os obstáculos são comuns e às vezes quase intransponíveis. Há uma diferença fundamental entre investigar e tratar as informações para obter a comprovação dos fatos, e argumentar sobre o que já se conhece para se ter uma opinião de bom senso sobre esses fatos. Assim, há investigadores críticos e aproveitadores de oportunidade.

O presente ensaio comentado e literário da história de Planaltina persegue o caminho da informação comparada, matéria de muitas entrevistas e levantamentos sob argumentação criteriosa para transmitir ou mesmo opinar.

A história de Planaltina, no período de 1892 à inauguração de Brasília, mostra que a sua história inteira acha-se compreendida em duas etapas distintas: antes e depois do lançamento da Pedra Fundamental da capital Brasília.

A ironia nos conduz ao termo “pedra”, que poderia conter a ideia: “não ficará pedra sobre pedra”, aqui ele é o marco que representa a construção de uma nova e magnífica obra de milhares de outras pedras; noutro exemplo: “a pedra o caminho” de Drummond revela a pluralidade de significados e de sentimentos. Ali, a pedra-obstáculo nas medidas da metáfora ganha os valores da preciosidade podendo desvelar sem sigilo: amores frequentes, amigos ou inimigos, momentos felizes ou tristes, expressão frequente de que a vida acontece superando dificuldades comuns. A nossa Pedra fundamental repete as luzes de Drummond no caminho da história de Planaltina.

Não há como iniciar este ensaio sem um retorno no tempo.  O Sítio de Mestre d’Armas tem real. A sua instalação volta para o acontecimento da pensão e da oficina do ferreiro no final do século XVIII. Outros proprietários ou pequenos agricultores puseram suas moradas em terras próximas de tal oficina. Há uma lista de dizimeiros na representação dessas pessoas na “História da terra e do homem no Planalto” do historiador Paulo Bertran.

        Sobre os documentos antigos, Bertran dá contas e registros de fragmentos e sesmarias do Sítio de Mestre d’Armas:

A – Sesmaria de Manoel Joaquim e Castro Souto Maior. A sua localização indica terras de Planaltina, sendo a área compreendida entre o rio Tigre, Maranhão, Lagoa Formosa e terras da fazenda Bonsucesso;
B – Sesmaria de Antônio Gomes de Almeida, localizada em terras à leste do Vale do Amanhecer, núcleo rural de Taquara e parte do setor urbano da Cidade;
C – Sesmaria de Manoel Moreira, sem requerimento de registros, localizada em terras da fazenda Sálvia, onde encontra-se instalado o Colégio Agrícola de Brasília;
D – Sesmaria de Domingos Rodrigues Alves, localizada em terras do morro Canastra, Sobradinho e Fercal;
E – Sesmaria de Bernardino Joaquim de Souza Machado Canabarro, localizada em terras de Lagoa Bonita, Embrapa e Sarandi, confrontando com as terras das fazendas Mestre d’Armas e Sálvia; e,
F – Sesmaria de Bento Nicolau de Oliveira, localizada entre o rio São Bartolomeu e o córrego nos núcleos rurais Stanislau e Tabatinga.

 Na confrontação dessas sesmarias e no acompanhamento de seus memoriais descritivos, há, nessa área, a repetida citação da existência de um povoado de Barreiros. Depois de exaustiva busca e verificação, o presente estudo indica como localização do referido povoado a fazenda Barreiros, nas proximidades do córrego Cocal, e, outra na área do Parque das Águas Emendadas.

Inaugurado o arraial de São Sebastião de Mestre d’Armas a 20 de janeiro de 1811, o Povoado caminhou o seu desenvolvimento de forma lenta, participando de uma disputa de comandos entre Santa Luzia (Luziânia) e Formosa da Imperatriz (Formosa). As lideranças locais reafirmaram através de três abaixo assinados a preferência pelo comando de Luziânia. E essa luta termina somente em 1892 com a elevação do Distrito de Mestre d’Armas (1859) a condição de Vila.

Com a instalação da Vila e a passagem da Comissão Cruls, o Povoado começa a ter vida própria. Os Conselhos Municipais e Intendências aprovam a denominação de ruas e praças do vilarejo: Largo da Igreja – Largo da Matriz de São Sebastião; Rua do Paço – rua 15 de novembro; rua de Simião Gomes – rua 1 de Junho; rua da Aula – rua 13 de maio; e rua de João Quirino – rua Bernardo Antonio.  Nessa última década do século, em 1893, foram criados o Fórum Civil, o Conselho de Jurados, a Aula de Primeiras Letras, a Cadeia Pública e o Paço Municipal.

Nesse tempo, havia 48 casas cobertas de telhas, conforme levantamentos realizados em 1969, através de entrevistas com moradores antigos e confirmados com o estudo comparativo posteriormente:

01. Maria Eduarda Pereira, ao lado da casa que foi de Dr. Hozanah, no mesmo alinhamento – Nessa época, havia um beco ligando com a rua de Baixo;
02. Coronel Salviano Monteiro (1904), que foi do Sr. Affonso Coelho da Silva Campos, residência e armazém, hoje funciona com Museu histórico e Artístico de Planaltina;
03. Coronel Valeriano Rodrigues de Castro, depois Viriato de Castro e depois Altino de Castro, demolida, em frente a casa do Sr. Zé Baiano na praça da Igreja;
04. Benedito Salgado e D. Rita, como residência e Aula, hoje funciona como Escola do ensino fundamental;
05. Benedito Ferreira das Neves, onde morou Dona Maria dos Anjos, em frente à igreja Matriz, na rua do Mestre d’Armas;
06. Sr. João Luiz, rua 1 de junho, onde morou José Ferreira (Zé carroceiro);
07. Sr. Francisco de Melo Pinto (Bichinho), rua 1 de junho e travessa Goiás;
08. Dona Maria de Romana, rua 1 de Junho;
09. Professor Tibúrcio Gomes Rabelo, residência e Aula, depois Bento Inácio Coelho, rua 1 de Junho, ao lado da casa de Dona Maria de Romana;
10. Sr. Ezequiel e Dona Joana, em frente à casa de Dona Maria de Romana, rua 1 de Junho;
11. Sr. Félix Gomes Rabelo e Dona Sinhalta, viúvo casa-se com Dona Maria. Mais tarde, Dona Maria fica viúva e casa-se com Joaquim Nunes, rua 1 de Junho, onde hoje é asfalto da rua que desce para a casa de Pompílio Marques;
12. Sr. Gabriel Salgado – casa dos lagoeiros, morou antes o Sr. Horácio de Almeida Campos, na praça da Igreja Matriz;
13. Sr. Francisco Alves da Costa – casa dos lagoeiros – Coletoria, mora hoje o Sr. Edgar, na praça da Igreja Matriz;
14. Herdeiros de João Gomes Rabelo – casa dos lagoeiros – hoje mora Dona Oscarina;
15. Sr. André Gomes Rabelo e Dona Clara, onde morou o Sr. Romão Gomes Rabelo, Avenida Floriano Peixoto;
16. Sr. Affonso Coelho da Silva Campos e Dona Cassiana, depois, Dona Ditinha, rua 15 de novembro e rua 13 de maio;
17. Sr. Hermano Claro, em frente a casa do Sr. Balbino Claro, rua 15 de novembro, Creche;
18. Sr. Balbino Claro – Casa de Dona Franquinha, hoje mora o Professor Pau Pereira, rua 15 de novembro;
19. Dona Rosalina de Almeida Campos – sobradinho – em frente à casa do Sr. Antonio Jardim, rua 13 de maio;
20. Dona Mariazinha de Joãozinho Dutra, onde morou o João Dutra Filho, rua 15 de novembro;
21. Sr. Teodoro de Sousa, ao lado da casa do Sr. João Dutra, fundos, onde morou o Sr. Manuelzinho, rua 15 de novembro;
22. Sr. Franco, em frente a antiga casa do Sr. Dustan Cardoso, rua 15 de novembro;
23. Sr. Onesíforo Carlos de Alarcão, antes funcionou com escola municipal, rua 15 de novembro e praça da República (praça Cel. Salviano);
24. Dona Rosalina de Secundino, terceira casa depois de Onesíforo Carlos, nesse mesmo alinhamento na rua 15 de novembro;
25. Sr. João Carlos de Alarcão, depois o Sr. Salvador Ribeiro de Freitas e Dona Gabriela de Guimarães Freitas, residência e comércio, hoje é a casa do Idoso, travessa Goiás e praça da República (Cel. Salviano)
26. Sr. Epaminondas da Silva Campos, em frente à casa do Idoso, residência e comércio, travessa Goiás e praça da República (Cel. Salviano);
27. Sr. Sebastião de Souza e Silva, depois Paço Municipal, morou o professor José Mundim Guimarães (Jucão), morou o Sr. Henrique de Souza e Silva, hoje o Sr. Umberto, praça da República (Cel. Salviano) e rua Senhor Bom Jesus dos Passos (Salvador Coelho);
28. Dona Ângela, canto da praça entre o Hotel “Casarão” e a casa do Sr. Epaminondas;
29. Sr. Manoel Ribeiro (Neco), residência e comércio, depois pensão do Sr. Bernardo e Dona Ribeiro, rua 29 de fevereiro (Cel. João Quirino);
30. Sr. Iron Chaves e Dona Chiqueza, residência, depois morou Dona Nedy e o Sr. Sampaio rua Senhor Bom Jesus dos (Salvador Coelho) e Eugênio Jardim;
31. Sr. Leonel de Campos e Dona Ana Ribeiro, residência, depois o Sr. Cassimiro e Dona Elizena, hotel, Dona Benedita e o Sr. Eurico del Fiacco, rua 29 de fevereiro (Cel. João Quirino) e travessa Goiás;

 

 

 

32. Sr. Alexandre Dumas Salgado, residência e “loja Grande” e na esquina, em frente ao Sr. Joviano, a “casa do sal”, que transformou-se na Sede de uma Associação Rural, Rua Bom Jesus dos Passos (Salvador Coelho);
33. Sr. Salvador Coelho da Silva Campos, depois Sr. Epaminondas e Dona Etelvina, hoje hotel “Casarão” de Dona Geralda, praça da República (Cel. Salviano);
34. Paço Municipal, morou o Sr. Aurélio Mundim e Dona Santa, hoje o Sr. Ronaldo de Freitas Guimarães;
35. Sr. Lauro Gonçalves (Laro) e Dona Cota, residência, onde mora a Dona Carola, rua Senhor Bom Jesus dos Passos (Salvador Coelho);
36. Dona Rita da Conceição (Dona Iaiá), praça da Igreja Matriz e rua 13 de maio;
37. Sr. Francisco Ferreira, loja, depois o S. Joviano de Souza e Silva, rua Benjamim Constant e rua Bom Jesus dos Passos (Salvador Coelho);
38. “A Casa” para apresentação de peças teatrais e festas, hoje Sr. Zezinho e Dona Alzira Torres, rua Senhor Bom Jesus dos Passos (Salvador Coelho);
39. Dona Merência, em frente à casa do Sr. Affonso Coelho, rua 13 de maio e rua 15 de novembro;
40. Sr. Antonio Gonçalves e Dona Cena, depois morou o Sr. José Guimarães Mundim (Inhozinho) e Dona Tota, rua 13 de maio e rua de Carolino (Hugo Lobo);
41. Sr. Victorino Bevinhatti e Dona Ana de Souza e Silva, oficina, confeitaria e residência, em frente à Loja Grande do Sr. Alexandre, rua Senhor Bom Jesus do Passos (Salvador Coelho);
42. Sr. Carolino de Souza Só, residência e manipulação de remédios, rua de Carolino (Hugo Lobo);
43. Sr. Alexandre Sicherolli, numa casa ao lado de Victorino Bevinhatti, rua Senhor Bom Jesus dos Passos (Salvador Coelho);
44. Sr. José Alves da Costa, onde morou o Sr. Antonio Jardim e Dona Sofia, rua 13 de maio;
45. Sr. Venço pai de Waldemar de Dona Belarmina, onde mora Dona Tilinha, rua 13 de
maio e rua de Carolino (Hugo Lobo);
46. Dona Avelina de Almeida Campos e Salvador Coelho da Silva Campos, funcionou como correio, ao lado da Cadeia pública, rua 15 de novembro;
47. Sr. Onesíforo da Silva Campos e Dona , funcionou como pensão, ao lado da casa de Dona Avelina, rua 15 de novembro;
48. Igreja Matriz de São Sebastião, 1811, contam os antigos que foi um pequeno orago coberto de palha, taipa e barro, alguns anos depois, construíram a nave da igreja com as paredes largas (como a igreja atual), coberta de telhas – finalmente, 1880, construíram as sacristias laterais, altares barrocos e um elevado de madeira no interior para acomodação do coro e das autoridades.

As telhas canaletas eram produzidas artesanalmente e tornavam-se caras. Nessa época havia quatro Cerâmicas (fábricas), próximas do Povoado que fabricavam potes, panelas, jarras e telhas: Duas dentro do Parque das Águas Emendadas, uma no sítio de Tomás Caldeira e outra no sítio Taboca; uma terceira no sítio que foi do Sr. Otaviano Guimarães, abaixo da passarela; e, a última nas terras de Pompílio Marques. Instalações precárias e fornos para queimar a um número reduzido de peças. O transporte era feito com os carros de bois.

Deve-se dizer que a Cadeia pública encontrava-se numa casa na rua 15 de novembro, em frente a do Sr. Franco, que era chamada de “o tronco”, com algumas celas e um esteio de aroeira no pátio para a execução dos sacrifícios. Esse servia para amarrar e chicotear na punição de presos por algum crime grave, ou para repreender algum escravo que cometesse alguma atrocidade contra o seu senhor. Com a abolição da escravatura e o Povoado na condição de Vila, “o tronco” foi transformado em “Cadeia pública”.

O período histórico de 1911 a 1920 é considerado como o de maior desenvolvimento da Vila de Alta-mir. Pois se mudara a denominação da Vila a partir de 1910, sendo que 1917 uma nova mudança e o Povoado passa a se chamar Planaltina. Nesse tempo, os intendentes foram Cel. Salviano Monteiro, Victorino Bevinhatti e Sebastião de Souza e Silva (Cel. Sebastiaozinho), nessa ordem. As razões mais fortes e indicadas para o surto de progresso foram: a vinda da futura Capital no processo de interiorização; a autonomia dos intendentes com ligações diretas com a Presidência da Província; e, a criação e instalação da Empresa Bevinhatti, Salgado e Cia. Victorino Bevinhatti veio para Planaltina com a perspectiva da mudança da Capital Federal para o interior de Goiás. Aí, nesse lugarejo promissor, ele monta uma fabriqueta de selas e sapatos, além de uma confeitaria e produção de festas.

Mais tarde, Victorino cria uma sociedade com Alexandre Dumas Salgado e Sebastião de Souza e Silva com as seguintes proporções de valores de capital:

Sócio $
Victorino 173.037$995
Alexandre 163.739$845
Sebastião 50.000$000
Com uma distribuição de cargos e funções como segue:
Alexandre Sicherolli Gerente das oficinas de selaria e sapataria
Manuel Salgado Gerente do Curtume
Leonel de Campos Gerente de Loja

A Empresa empreitou, com a Intendência Municipal, a abertura da estrada de rodagem de Planaltina a Ipameri e 1920. Para o pagamento da grande obra foi feito o recolhimento de doações e a realização de festas beneficentes, conforme a Ata de sua inauguração.

A 13 de julho de 1921, com a inauguração do trecho de estrada que ligava Planaltina à Luziânia, o Povoado considera como grande vitória principalmente para o comércio local. Pois, longas eram as viagens. Às vezes, o deslocamento de Planaltina à Luziânia demorava vários dias, épocas de chuva. O transporte de cargas de mercadorias e passageiros era realizado no “lombo do burro”, cargueiros ou carro de bois. Os carros atolavam-se na lama e a viagem tornava-se um programa de grandes obstáculos: capas de chuva, alguma morada, carne seca e rapadura, quitandas nas latas, paçoca ou farofa de frango.
A rodagem foi um grande alívio!

O relatório Cruls transforma-se num sonho vaporoso, num projeto sem as dimensões do tempo. Algumas vozes mudancistas da Vila ficavam esvaziadas com a demora interminável: Viriato de Castro, que era considerado pelo pai como conhecedor da região, experimentara como guia da Comissão, a certeza de que a Capital seria trazida para essas paragens; Carolino de Souza e João Gomes Rabelo (de Sobradinho), adolescentes, companheiros de Viriato, assistiram e participaram das revelações dos cerrados nas pesquisas realizadas pelos membros da Comissão Exploradora de Cruls; e, outros mudancistas do lugar que buscavam atingir concretamente o crescimento da Vila, utilizando-se do mesmo ideário.

No plano da política nacional, a interiorização da Capital era considerada como um mal por desmantelar a máquina administrativa do país e desagregar os interesses particulares. Ou como necessidade de evolução da marcha para o Oeste e da consolidação dos limites e domínio do território do Brasil. Nessa corrida de contradições destacaram-se Americano do Brasil e Rodrigues Machado, mudancistas, propunham a construção da Capital no interior, no Planalto, no prazo de dez anos. Embora o ex-presidente da república, quando comandava os destinos do país fosse contra a interiorização, aprova como Presidente da Comissão de Constituição um substituto do projeto de Americano e Rodrigues. Isso permitiu que o Presidente Epitácio Pessoa firmasse o decreto N. 4494, de 18 de janeiro de 1922: “Determina que a pedra fundamental da Capital Federal seja lançada no planalto de Goyaz, no dia 7 de setembro de 1922 e dá outras providências.”

Contratada a Empresa da Estrada de Ferro de Goiás, ficava o seu Presidente Engenheiro Balduino de Almeida autorizado a tomar as necessárias providências para o lançamento.  Engenheiro tinha os referenciais: entre os Córregos de Sobradinho e São Bartolomeu. Mas com o auxílio das autoridades de Planaltina (Intendência e Conselho Municipal) foi escolhido o lugar, com largueza de espaço. Uma elevação da Fazenda Catingueiro recebe a denominação de Morro Centenário.

Nessa época, ocupavam a Intendência os senhores Sebastião de Souza e Silva, João Carlos de Alarcão e Félix Gomes Rabelo. O Conselho Municipal era composto com os senhores: Salviano Monteiro Guimarães, Alexandre Dumas Salgado, Francisco Alves da Costa, Tibúrcio Gomes Rabelo, José Deodato Gonçalves, Deodato do Amaral Louly e João Batista da Cunha.

 A Pedra Fundamental viera de Ipameri, em blocos de cimento armado, para ser montada e instalada em Planaltina. O transporte de Ipameri para Planaltina fora feito em 6 caminhões e 9 automóveis “Ford”.  Ao meio-dia de 7 de setembro foi lançada a Pedra Fundamental, da futura Capital da República. A ata de lançamento contém 92 assinaturas, mas os antigos contavam que a solenidade ocorreu com algumas centenas de pessoas.
         
No discurso de lançamento, pronunciado por Evangelino Meireles, consta que a ideia de colação da Pedra basilar, da futura Capital, partiu do pesquisador lusiano Gelmires Reis ao grande Deputado Federal Americano do Brasil, aprovado em 1921. O Lançamento da Pedra Fundamental trouxe aos planaltinenses a certeza da construção da Capital. Mas houve uma torcida “do contra” que com o tempo tentava desmotivar. Tirar a crença numa realidade “impossível”. “Cerradão de cupim e meu Deus, onde já se viu?!”

Esse lançamento da Pedra fundamental de Brasília, à 7 de setembro de 1922, no morro Centenário, comemora 100 anos da Independência do país. Mas acima de tudo, confirma o surgimento de novos destinos para a Vila de Planaltina. A Pedra, afinal, parecia ser um mero sinal da disposição do Governo Federal de realizar ou executar um preceito constitucional desde 1892. Assim, alguns políticos, com esse lançamento, abrem as discussões sobre o assunto polêmico, com a certeza de que a transferência de Capital acarretaria na valorização de novas relações entre os Estados da Federação e o Governo Central.

A estrada até Ipameri, que independia do lançamento da Pedra, após o ato de 7 de setembro, se somou à mesma ganhando importância para a Empresa Bevinhatti, para o Povoado, para o Estado de Goiás e como caminho de recondução nacional. A Empresa Bevinhatti, Salgado e Cia. faz novos investimentos para o seu crescimento comercial: compra um ônibus como meio de transporte de passageiros e mercadorias (o primeiro a circular no Estado de Goiás); cria uma filial da Empresa, com os mesmos propósitos já realizados na matriz, em Ipameri; amplia a capacidade de produção de energia elétrica de sua usina hidroelétrica; cresce o seu quadro de funcionário e amplia a produção do curtume, da fábrica de artefatos de couro e da charqueada. Em 1925, distribui energia elétrica para toda a Vila; O time de futebol, Planalto Central Futebol Clube, tem duas equipes de bons níveis: “papagaios” e “urubus”. A partir dessa Empresa cria-se uma nova Banda de música, sob o comando de Alexandre Sicherolli, denominada e “6 de outubro”. E com a mesma finalidade traz o Sr. Clarindo Augusto de Formosa como maestro auxiliar.

Havia em Planaltina outra Banda de música, que mais tarde recebe a denominação de “Santa Cecília”.   A 23 de dezembro de 1894, por ocasião da inauguração dos retratos do Mal. Floriano (ex-Vice Presidente da República) e do Doutor Prudente de Morais Barros (Presidente da República), num encontro festivo e solene do Conselho Municipal, Intendência e Comunidade. O Secretário do Conselho registra o fato, em seu Livro de Atas, dizendo: “por ocasião foram queimados, na porta do paço do Conselho Municipal, muitos fogos artificiais, e a pequena Banda de Música do lugar tocou repetidas vezes o Hino Nacional da República.” Conforme o livro de Atas do Conselho Municipal de 1894. A euforia e a civilidade fundiram-se na verdade e existência de uma Banda, que fizesse soar a sensibilidade mestrediarmense.

A Banda de música, no interior, é motivo de alegria da comunidade. Os eventos sociais, cívicos, políticos, religiosos ou desportistas contam com a Banda. Em toda a história de Planaltina, as duas festas religiosas mais concorridas eram a de São Sebastião (padroeiro) e a da Folia do Divino Espírito Santo. Em ambas, a Banda de música aparece.

Após o lançamento, dentre as que acreditavam, havia os mais ardorosos. A convicção e o ardor de Deodato do Amaral Louly, através da S/A Planalto Central de Goiás, o levaram a um grande empreendimento. Como proprietário de terras próximas da Pedra conseguiu a aprovação do projeto Planaltinópolis, a partir de 2 de abril de 1925. Instalou escritórios, em quase todas Capitais brasileiras, para a venda dos lotes de terreno. E foi com grande sucesso.

Houve mais dois loteamentos em Planaltina: a partir de 5 de abril de 1925, “Vila Brasil Central”, de Francisco Juliano, e, a partir de 1926, “Platinópolis”, localizado próximo à Fazenda Monjolos. Em Luziânia, houve a partir desse tempo loteamento bem sucedido: “Planópolis”. Em 1926 o norte-americano Dr. Franklin Graham, ministro da IGREJA PRESBITERIANA, passa por Planaltina, e cria um foco de pessoas crentes nessa “nova” modalidade de religião. Com esses, Dr. Franklin criou a 1ª a primeira Igreja Presbiteriana de Planaltina. E seguiu viagem para o Mato Grosso e Bolívia.

Com o lançamento da Pedra Fundamental, Dr. Franklin veio residir com a família em Planaltina. Sua esposa Jean Porter Graham foi, de fato, uma luz para a juventude planaltinense. Compram uma casa de residência à Avenida Goiás e constroem um templo e escola à Rua João Quirino.

 

 

 

“Doutor Franquilin”, como era carinhosamente chamado, tinha uma prodigiosa e piedosa sabedoria cristã, com o costume de dar remédios aos doentes, obtendo a cura de muitos males.
  “Dona Gina”, como era chamada a sua esposa, criou um local, grande espaço, para a divulgação de “jogos de salão”, brincadeira, cânticos e atividades desportivas. Trouxe para a comunidade um jogo parecido com o “base ball” chamado de “bety”.

Em 1926, criaram a Escola Evangélica, depois denominada “Franklin Graham”, em homenagem ao seu fundador. Funcionou até 1953. Em 1924, o fato mais marcante foi a passagem da Coluna Prestes por Planaltina. A caravana com mais de 600 homens tentava a pregação do Comunismo. A criação da idéia de um país mais justo, mais fraterno, sem os ajustes e “extorção” da política do “Café com leite”.

Pouca distância atrás, outra caravana, a dos “terríveis” ou “endiabrados” que se dizia parte da Coluna Prestes. Essa caravana era composta por mais de 200 pessoas. O que ficou para os habitantes do interior foi uma visão destorcida e catastrófica. A Vila fora apanhada de surpresa.
A Coluna Prestes chegou na região de Planaltina pela antiga estrada real. Esta estrada foi transformada em rodagem até Ipameri pela Empresa Bevinhatti, Salgado e Cria em 1921. Estrada por onde teria passado o comboio do Engenheiro Balduíno com a Pedra Fundamental em 1922.

A Coluna chegou à Cidade em 1924. Final do ano. Na verdade, a Coluna empreendia um movimento largo, organizado e avassalador. Houve quem dissesse, milhares de pessoas. Uma multidão! Um grupo de guias batedores, levando informações, bem na frente. Logo atrás, o Comando, os líderes e seguidores ou rebeldes, aliados por vários motivos: alguns alimentados com as lembranças da “Revolta de Copacabana”, “Movimento de revolta tenentista”, “insatisfação com os baixos saldos”, “desgaste da política do café com leite” ou “inconformismo com a política de Artur Bernardes”. Todos unidos pelos novos ideais socialistas. Adiante, os simpatizantes incorporados, hasteando a bandeira vermelha, Brasil adentro. Depois, a certa distância, um grupo de desordeiros aprontava e maltratava o povo. Os relatos colhidos com os antigos dão uma imagem desencontrada do feito, porque é notório de que a bandalheira e a crueldade correspondem aos atos da 2ª caravana que acompanhava a Coluna.

Em 1929, foi lançada a Pedra inicial, da construção da Igreja Matriz Nova, pelos Freis Henrique, Benevenuto e Boa Ventura. Porém, a idéia de construção e acompanhamento da obra deveu-se ao Frei Aleixo. O mestre-de-obras responsável pelos serviços foi o Senhor Simão. Além dos empreendimentos educacionais, esse período termina com a criação do primeiro jornal de Planaltina: “Jornal Alta-Mir” – 1930.

Esse mensário foi mantido em circulação durante três anos. Órgão de divulgação e formador de opinião, o “Alta-Mir” tratou de assuntos polêmicos; abria espaço aos poetas e prosadores do Planalto Central. O Jornal era dirigido por Alexandre Dumas Salgado e Teófilo Neto (Teoneto). A equipe de redatores compunha-se de: Teoneto, Abrão Isac Neto (Abrãozinho), Cacildo e Gastão Pereira Salgado (Gasal).

Conforme entrevistas feitas aos antigos e monografia elaborada por José Mundim Guimarães, Planaltina apresenta-se com: duas Escolas: grupo Municipal Brasil Caiado e a Escola Americana ou Colégio Evangélico; duas Bandas de Música: “da Vila” e a “6 de outubro”; Bevinhatti Salgado e Cia. – Fábrica de calçados, selaria, curtume, charqueada e transporte; Paço Municipal, Correios, Conselho Municipal, duas igrejas: Católica Presbiteriana, Armazéns, Lojas, Açougues e Vendas.

A situação da Igreja Evangélica e a Escola Americana atingiram os quadrantes da Vila de Planaltina. Os jogos de salão, hinos de louvor ganhavam terreno. Era comum na área rural, os jovens se agruparem nos momentos de reza, mutirões ou reuniões e festas, onde se dançavam a quadrilha, a moda rancheira, polka ou catira. Na área urbana, os jovens se mobilizavam para os “Bailes da Chita”, serestas e teatro realizados na “Casa” (Rua Cel. Salvador Coelho), serenatas e festas do Judas, “lapinhas” ou quermesses no Largo da Igreja. A comunidade católica abalou-se com o fato: a prática da Missão Presbiteriana.

Incentivada pelas fieis da Igreja Católica, o padre dominicano Frei Benevenuto Casabant e Frei Boa Ventura criam a Escola Paroquial “São Sebastião”. Sua equipe era composta de Gabriela Guimarães Freitas (Diretora), Francisca Clementina Salgado e Dulce Guimarães. Tempo depois houve a incorporação de Amélia Lopes, Flávia Carneiro e Zélia Salgado. Essa Escola oferecia, além do curso primário, o curso complementar. Desse curso citam professoras como Dona Benita de Jesus, Nilda Silva Campos, Áurea Gonçalves e Padre Antonio Marcigaglia. Dentre as professoras que trabalharam na Escola Paroquial cita-se também, Geralda Gonçalves.

A 2 de março de 1938, conforme Decreto Federal no 311, a Vila de Planaltina foi elevada à categoria de Cidade.
Nesse ano, alguns melhoramentos fizeram parte dos primeiros projetos da nova Cidade: melhoria na distribuição de água; construção do Campo de aviação; construção da estrada de Planaltina-Corumbá; construção do coreto da Praça Salviano.
Depois de tudo isso, a construção de Brasília veio marcar os destinos de Planaltina com chave de ouro.

Através desse breve ensaio comentado, mostramos que a Pedra fundamental de Brasília determinou dois momentos da história de Planaltina: antes, um porto na solidão dos cerrados, nascentes dos grandes rios do país, cruzamento das trilhas e caminhos do ouro, do carregamento das tropas e boiadas e dos viajantes ou retirantes ciganos em busca de novos destinos; depois, o vislumbre de um sonho coletivo e ermo, cercado de motivação para construir com urgência o progresso e com o grande desejo de sorver do ouro e dos benefícios, no encontro de largas estradas, na construção do porto das grandes decisões nacionais.

Mário Catro, prof. da SEDF, contemporâneo de Paulo Bertran, é um dos historiadores pioneiro na pesquisa sobre a história da região.

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