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Água, educação e culturas:
redes hídricas e simbólicas na teia da vida

 

Por Vera Margarida Lessa Catalão


RESUMO

O tema central aborda a dimensão simbólica da água a partir da sua materialidade simbólica contida nos mitos e ritos da água em diversas culturas. Enfoca, sob uma perspectiva histórica, a relação do ser humano com a água e a forma instrumental como este elemento é percebido na sociedade contemporânea, fazendo a distinção entre o uso da água como recurso hídrico e a relação com a água, elemento sensível matriz, nutriz e motriz de toda vida planetária.  Evidencia saberes emergentes sobre a água, tais como a memória da água e sua capacidade de receber e transmitir informações, e a importância da articular a forma-conteúdo das bacias hidrográficas com a rede simbólica das culturas para a preservação e sustentabilidade da água, elegendo a educação como campo de mediação e articulação de sentidos.  Conclui pelo reconhecimento das propriedades sensíveis da água como matriz pedagógica de uma educação capaz de mobilizar as comunidades de aprendizagem para amar, cuidar, integrar e incluir toda a comunidade de vida na gestão da água.

Símbolo de pureza e fertilidade, de purificação e regeneração, de punição e de benção, da ira e do amor dos deuses, a água nutre o imaginário de todos os povos como elemento de mediação entre o mundo material e universo simbólico. Toda criação é primordialmente líquida, toda a vida se anuncia, toda vida principia pela forma sem forma da água. As narrativas da origem da vida apontam-na como matéria elementar, útero fecundo da diversidade da vida. Seu estado líquido possibilitou a vida, mas muito pouco sabemos sobre a excepcionalidade deste momento cósmico. Tampouco temos modelos explicativos para seu comportamento inusitado enquanto substância química.

Em Bachelard, a água invoca uma imaginação material voltada para as profundezas do ser:
A imaginação material da água é um tipo particular de imaginação. Ao conhecê-la o leitor compreenderá que a água é um tipo de destino, não somente o destino quimérico das imagens fugidias, o destino de um sonho que não se completa, mas um destino essencial que se metamorfoseia sem cessar na substância do ser. (Bachelard,1999:6).

A água, em diversas culturas orientais e ocidentais é instrumento da purificação ritual. Nas narrativas bíblicas, ninguém se aproximava de um templo ou adentrava em um ritual, sem antes fazer abluções purificadoras. Para os cristãos, se as águas não representam o princípio criador, elas permitem o renascimento do homem novo. O batismo pela água é um rito judaico incorporado pelo cristianismo. Por meio do batismo, realizado pela imersão nas águas de um rio ou de uma fonte, restabelecia-se os laços entre Deus e seres humanos. O gesto anual de limpar suas faltas entregando-as às águas correntes era um outro rito de purificação hebraico.Na Índia e Sudeste Asiático, os fiéis banhavam as estátuas sagradas na água pela crença nas suas propriedades de purificação e regeneração. Para o sábio chinês Want-tse, a natureza da água leva à pureza e Lao-tse define a água como “emblema da suprema virtude”.

No Corão, livro sagrado do Islamismo, a água também simboliza pureza e fecundidade, o próprio homem foi criado da água. A ‘çalat’ é uma prece ritual muçulmama que não pode ser proferida antes o adepto coloque-se em estado de pureza ritual pelas abluções de purificação pela água . (Chevalier e Gheerbrant, 1994)

Na Índia, na confluência dos rios sagrados Ganges, Yamuna e Saraswati, celebra-se a cada doze anos a festa da Kumbh Mela. Banhar-se nas águas destes rios purifica e pode libertar o peregrino do ciclo de renascimento e morte, dependendo do seu merecimento. Na tradição hebraica, o universo surge das águas, “no inicio era as águas e o espírito de Deus pairava sobre elas”, A primeira imagem de Deus é do vento do espírito (Ruah) soprando sobre as águas. É a palavra de Deus que separa as águas de cima e as águas de baixo. Também na tradição chinesa as águas se dividem em águas superiores, que correspondem às possibilidades informais - indeterminadas e águas inferiores, que correspondem às possibilidades formais - determinadas. (Chevalier e Gheerbrant op. cit)

Na mitologia grega a água é a matéria primordial da vida e, para o filósofo Thales de Mileto, o elemento fundador de todas as coisas. Em todas as religiões e tradições culturais, a água tem um sentido simbólico que supera o sentido utilitário. Na cosmovisão afro-brasileira, é nas águas doces e correntes que mora Oxum, entidade feminina ligada à fertilidade e beleza. As águas pantanosas, lentas, misteriosas é lugar de Nanã, orixá anciã da água misturada com a terra, lama fecunda que engendra toda forma de vida. Obá, é o nome de um rio da costa ocidental africana associado simbolicamente ao orixá feminino do mesmo nome, que habita nas proximidades da pororoca, no barulhento encontro das águas (Barros, 2002). Yansã - senhora dos ventos e das tempestades é também senhora das águas da chuva.

Na psiquê humana, ela lembra o útero materno, aquático pouso do embrião, espaço noturno e sonoro do feto. Retomamos a postura fetal, quando amedrontados ou fragilizados, exprimimos o desejo de retornar a água original ou voltar ao mar como queria Jacques Cousteau (apud Catalão, 2006:85) : 
Desde o instante mágico em que meus olhos se abriram no mar, não posso mais ver, pensar e viver como antes. (…) A água tomou posse da minha pele, as formas dos seres marinhos tornaram-se puras até o despudor, o despojamento dos gestos adquiriam um valor moral. A gravidade, eu comprendia de repente, era o pecado original, cometido no dia em que os primeiros seres saíram da água e a redenção somente retornará quando eles fizerem o caminho de volta. 

Culturas antigas e as que vivem mais próximas da natureza sabem que destruir as possibilidades de renovação da água, interromper seu fluxo, é uma atitude auto-destrutiva que semeia desertos. Para Barlow e Clarke (2003:4) “apenas culturas modernas guiadas pela ganância e convencidas da sua supremacia sobre a natureza não reverenciam a água”.

 

Ouro azul - a crise da água

Engendrada pela poluição, pela urbanização crescente e pelo acirramento das mudanças climáticas, a crise da água que adquire mostra seu impacto, em dimensão planetária neste século. A razão instrumental busca soluções técnicas para purificação da água e alimenta a lógica de uma economia de mercado que tenta, sem sucesso, equacionar custo, lucro e bem comum. “Busca-se corrigir resultados, sem tocar no modelo de desenvolvimento consumista e utilitário que se constitui no motor gerador da crise” (Catalão, 2014). O conjunto da sociedade compartilha o imaginário hegemônico de descartabilidade dos produtos e exploração sem limites das forças da vida, humanas e não-humanas. A subjetividade que acreditamos singular é produzida de forma maquínica e modelada por agentes externos (Guatarri: 1992) e mobilizam os desejos que supomos nossos.

Todos os ecossistemas são mantidos pela água e pelo ciclo hidrológico e somos tão dependentes da água como foram os nossos antepassados. Inebriados pela fantasia de um consumo sem limites, crentes na abundância perene da água não medimos as consequências dos nossos próprios atos, desconhecemos a ecologia da nossa ação. O resultado de tanta insanidade diante de um futuro nada promissor para a sobrevivência humana é o risco em escala global. A água transita entre fronteiras visíveis e invisíveis: para além das águas de superfícies, circulam acima das nossas cabeças verdadeiros rios voadores e, sob os nossos pés, resguardam-se as água subterrâneas em lençóis freáticos e aquíferos.

 

No decorrer do século XX, a população mundial triplicou,enquanto o consumo de água foi multiplicado por sete. A cada vinte anos o consumo global de água cresce mais que o dobro do crescimento populacional ( Barlow e Clarke, 2003). Teoricamente, a quantidade da água planetária continuou a mesma, mas as mudanças climáticas têm afetado drasticamente a disponibilidade de água doce para as comunidades de vida. As tecnologias com alto potencial destrutivo para os ciclos naturais, o modelo de desenvolvimento sustentado pela acumulação do capital, a extrema desigualdade e o apelo constante ao consumo desenfreado, estão na base da agonia letal que consome os sistemas aquáticos. 

A urbanização crescente rompeu o equilíbrio entre campo e cidade, anteriormente capaz de garantir a recarga dos lençóis freáticos e a manutenção do ciclo hidrológico. A água de chuva que cai no continente não encontra mais um solo permeável para infiltrar-se. A redução da cobertura vegetal diminui a evapotranspiração e o aumento gradativo das áreas aslfaltadas impedem a infiltração ocasionando inundações que atingem anualmente mais de 200 mil pessoas. Nos últimos dez anos, as catástrofes naturais desabrigaram cerca de 200 mil pessoas e provocaram prejuízos anuais de US$ 184 bilhões em média, de acordo com estudo publicado pela companhia de seguros Muniche Re em 2012.

Michal Kravcik, engenheiro hidráulico da OnG Pessoas e Águas da Eslováquia, explica como a ocupação territorial desordenada altera o ciclo hidrológico. Este ciclo de renovação das águas apresenta-se equilibrado se o volume de água que escoa dos rios para os oceanos igualar-se ao volume de água evaporado dos oceanos que volta aos continentes por meio das chuvas. Quando a chuva atinge o asfalto em vez dos campos e florestas - onde a capilaridade e a permeabilidade são mantidas pela vegetação – a água da chuva não se infiltra, escorre pelo solo impermeável e incha os rios e oceanos. “Como resultado a preciosa água doce é transformada em água salgada. As florestas e prados são o domicilio da água e deveriam receber chuva e neve, mas quando a água da chuva atinge áreas pavimentadas desvia e flui para o oceano”. (Barlow e Clarke, 2003:12).

Segundo Margi Moss (2014), estudos realizados por pesquisadores do INPE em parceria com Gerard Moss coordenando o trabalho de campo, a Amazônia é um imenso sistema de refrigeração, funcionando como uma bomba d’água de proporções gigantescas. Estima-se que uma única árvore frondosa de médio porte (copa de 10 metros de diâmetro) ou de grande porte (copa de 20 metros de diâmetro) pode evapotranspirar em um dia entre 300 e 1.100 litros de água respectivamente e que floresta amazônica cede diariamente para a atmosfera em torno de 20 bilhões de toneladas de vapor de água.

Massas de ar – às vezes com alguns quilômetros de largura – carregadas de umidade e propelidas pelos ventos, como se fossem rios empurrados pela correnteza, transportam essa umidade em direção ao oeste e ao sul. Esses rios aéreos, poeticamente descritos como “rios voadores”, são rios de vapor de água que passam despercebidos acima da nossa cabeça. (Moss, 2014:191)

Conforme dados da ONU, cerca de 1 bilhão e 680 milhões de seres humanos não possuem abastecimento de água potável e até 2025 esta situação afetará quase metade da humanidade. A Agência Nacional de Águas (ANA) prevê que mais da metade (55%) dos municípios brasileiros poderão enfrentar problemas de falta de água até 2015. Já a Cúpula Inter-Governamental sobre Mudança Climática aponta que, até 2050, a reposição dos lençóis freáticos diminuirá no Brasil em mais de 70%. Em outros países, as perspectivas são ainda mais drásticas e, por isso, cada vez mais, a água torna-se não somente um bem estratégico para o desenvolvimento e a sobrevivência humana, mas também uma questão determinante na geopolítica mundial.

As grandes represas do mundo, que somam mais de 40 mil inundaram 1% da superfície terrestre e deslocaram mais de 60 milhões de pessoas. No Brasil, cuja matriz hidráulica acentua essa tendência, o desenraizamento das pessoas dos seus territórios, o empobrecimento e o aviltamento das suas culturas e modos de vida têm sido repertoriadoem diversos estudos acadêmicos e, sobretudo, são motivos de luta e resistência pelos movimentos dos atingidos pelas barragens e.

A construção da Usina de Belo Monte é mais uma ameaça aos direitos humanos das populações ribeirinhas e ao direito à vida de milhares de espécies da fauna e da flora local. A opção pela construção de grandes hidrelétricas, empreendimentos dispendiosos que demandam do Estado investimentos bilionários deixa à míngua projetos e pesquisas tecnológicas para diversificação das matrizes energéticas do País, tais como a eólica, a solar fotovoltaica, biogás e uso da biomassa a partir de rejeitos da agricultura. Sabe-se que a centralização em uma única matriz energética é uma opção insustentável diante do cenário previsto sobre o impacto das mudanças climáticas no Brasil, que afetará diretamente o ciclo hidrológico e a vazão dos rios e lençóis freáticos. A relação água e energia é o tema de 2014, escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) no contexto das reflexões propostas para a Década da Água (2006-2016) e momento oportuno para o país retome a discussão e a elaboração de políticas públicas sobre o tema. Se não o fizermos, nos defrontaremos muito em breve com mais um apagão e, a exemplo que já vem acontecendo, serão acionadas ou construídas novas de usinas termelétricas, a despeito da emissão de gases de efeito estufa.

As bioregiões sustentadas pelo ritmo das bacias hidrogáficas modelam e orientam a vida em uma localidade. O desvio dos cursos d´água não se faz impunemente, como se vê, na atual cheia do Rio Madeira nos mostrando o revide da natureza ao desvio do seu curso e os limites da dominação de um cultura predatória sobre o ciclo hidrológico. A cheia do Madeira atingiu 19,38 metros neste ano de 2014, segundo aferição da Agência Nacional de Águas (ANA). O recorde histórico havia sido registrado em 1997, quando subiu 17,52 metros acima do nível normal.

A crise da água revela o lado avesso do desenvolvimento capitalista e deverá impor limites irrefutáveis ao crescimento e tornar mais aguda as contradições e os conflitos de água entre as nações e mesmo entre estados de uma federação. Em 2014, diante do risco de abastecimento pelo sistema Cantareira - que atingiu em 2104 os piores níveis de armazenamento, desde a sua criação, na década de 1970 - a proposta do Estado de São Paulo para canalizar água de um afluente da bacia do Paraíba do Sul foi criticada pelo Estado do Rio de Janeiro e pelo Comitê de Bacia em razão do possível impacto no abastecimento deste Estado e de 184 municípios que dependem da água desta Bacia. No primeiro Forum Mundial da Água em Marrakesh, o rei do Marrocos comparou a água ao petróleo do século XXI dado ao seu valor mercadológico. O valor econômico da água a transforma em objeto de disputa de grandes corporações e de acordos comerciais com os governos de diversos países para privatização do abastecimento e exploração das fontes de águas minerais. O caso da Nestlé em São Lourenço é um caso emblemático de exploração indevida das águas minerais para comercialização da água Pure Life, com autorização do governo de Minas Gerais.

A sociedade civil tem buscado formas alternativas e ocupado brechas institucionais para se contrapor à incompetência e muitas vezes ao descaso das políticas governamentais para tratar de forma integrada a gestão das águas no Brasil. Sabe-se que as águas minerais, águas subterrâneas e águas atmosféricas não têm sido abordadas como um sistema integrado e virtuoso de preservação e renovação das águas territoriais. A experiência criativa da sociedade civil da Serra do Espinhaço acena para um novo paradigma na gestão das águas em contextos de microbacias.

Uma Reforma no Pensamento

Segundo Beck (1997), a “sociedade de riscos”, produtora da crise da modernidade, deveria tornar-se cada vez mais reflexiva, emergindo como tema para si própria. Acontece que não avançamos na reflexão, pois esta se dissipa no tempo acelerado e sem pausas que marca o ritmo da cultura de consumo e torna-se cada vez mais superficial, como uma “metáfora perfeita do leito raso dos rios assoreados” (Catalão e Jacobi, 2012). A função reflexiva demanda proximidade e distanciamento, um sabor concreto e um saber de mediação.

Para Morin (2012), somente uma reforma de pensamento - na dimensão da noosfera, onde habitam ideias, imaginação, representação de mundo - é possível operar a mudança. É possível que somente no plano das representações, dos processos imaginários e de simbolização possamos criar um novo sentido para as águas que correm fora e dentro de nós. Para o poeta TT Catalão (2003) “a memória primordial da vida está impressa na água. Nela, o fio condutor matriz da vida: lembrança permanente de um cordão umbilical rompido e sob permanente desejo de retorno”.

As águas são os olhos da terra e “em nossos olhos é a água que sonha” (Bachelard, 1992). Muitas vezes perscrutamos um olhar para compreender a alma do outro, não podemos imaginar o quanto precisamos olhar para água para desvelar a qualidade do nosso projeto civilizatório? Sabemos que, turvo o reflexo, confusa a consciência que contempla. A poluição das águas é o reflexo da turvação da consciência contemporânea (Catalão, 2002). A mesma força de degeneração atua fora e dentro de nós, especialmente quando se trata da água que física e simbolicamente ocupa 2/3 do planeta Terra e também do corpo dos seres humanos.

Água e educação: por uma ecopedagogia da água

A plasticidade deste elemento é a materialidade simbólica que originou o projeto de docência, extensão e pesquisa Água como Matriz Ecopedagógica- AME, que junto com a professora Maria do Socorro Ibañez, desenvolvemos na Universidade de Brasilia, em um contínuo fazer/aprender a muitas mãos desde março de 2003. Assim como a água encaminha todos os seres vivos para manifestação das suas próprias formas, a ecopedagogia que ela inspira tem nos feito compreender a educação como um processo que exprime a dinâmica da vida interior em contato com a vida exterior e a perceber a educação, como um oficio que mimetiza o modo de ser da água e media significados e sentidos nas comunidades de aprendizagem. Quando a água reflete o céu é o universo inteiro que se duplica, numa metáfora extraordinária da consciência humana. A natureza passa a ser o outro da cultura e, neste jogo dialógico do objetivo e do reflexivo, emerge a consciência consciente de si – base de todo processo de hominização. (Catalão, 2008:26)

Para Yara Magalhães (2006), a atividade artística, proposta corretamente, conduz á interioridade humana, sensibiliza, expande potencialidades, estimula a liberdade, expressividade e autonomia. Permite ainda uma infiltração da informação em camadas mais profundas do psiquismo humano superando os recursos didáticos meramente racionais. As linguagens poéticas presentes nas artes nos fazem penetrar num universo no qual o símbolo nos fala sem cessar de um outro olhar possível sobre o mundo, de uma outra relação com um significado inacessível que se atualiza mas não se desvela jamais na obra de arte. Resguarda-se o mistério que em parte se ilumina na polissemia de sentidos que emprestamos ao mundo.

O Simbólico nunca é senão a espuma do movimento permanente das vagas de um imaginário oceânico que nas suas águas profundas se confunde com o real. Separar o significante do significado para explicar a sua estrutura é acreditar que o redemoinho no rio é uma entidade separada dele e, mais ainda, separada da água que fundamentalmente o constitui. É uma ilusão de ótica que operou durante muito tempo o pensamento formal, objetivista e antiexistencial em ciências humanas. (Barbier, 1997:102).

Para este autor, o espírito humano vivencia flash existenciais reveladores dos símbolos presentes no seu universo existencial. Para Mircea Eliade (1977) o sagrado é uma expressão primordial da psique. No universo mental do homo religiosus, o numinoso é a fonte originária de um conhecimento que se exprime por intermédio dos mitos, arquétipos, símbolos e ritos e que permitem aos seres humanos uma relação de pertencimento por meio da leitura do sagrado na vida quotidiana.

O projeto AME assume uma abordagem transversal para articular as múltiplas referências teóricas e tecnológicas e as representações da água nas diferentes culturas para reunir significante e significado, articular forma e conteúdo como margens opostas e complementares de um mesmo rio.

A água é por excelência o elemento da transversalidade como elemento de mediação entre céu e terra, como também pela sua ação comunicativa nas interações celulares e nos processos circulatórios dos seres vivos e do próprio planeta Terra. Ao adotar uma ecopedagogia da água buscamos fazer emergir um conhecimento integrado por meio de movimentos transversais que resultam em redes de saberes comunicantes. (Catalão e Ibanez, 2014:69)

 

A observação da Natureza na ecopedagogia do AME é mais uma estratégia de aproximação com os ciclos da vida e enraizamento na base biológica que nos co-determina. Observar de forma participante, sincronizando pensamento, sentimento e sentido de mundo, para motivar uma relação mais profunda com o meio natural, imbricando à intersubjetividade nesses processos, seja reconhecendo os seres da natureza como uma alteridade, seja pelo diálogo com outros humanos. Por esta via, a lógica do vivente sustenta a meta-lógica da cultura que pode articular harmonicamente o modo de ser natureza e o modo de ser cultura (Catalão, 2009). O símbolo é a linguagem da mediação que faz a ponte entre este duplo pertencimento do humano. Aprender implica na produção integrada de novos saberes e de novos fazeres e a educação ambiental deve propor um olhar que enxerga o meio ambiente inteiro.

Uma pedagogia da Água é um convite para uma aproximação multirreferencial desse elemento: água como bem ecológico, água como bem econômico, água como bem comum, água como matéria carregada de simbolismo. Uma pedagogia da água enfatiza sobretudo, a imensa capacidade deste elemento para acolher substâncias diferentes, para estimular travessias, para fazer emergir a memória adormecida e latente dos estados primordiais que nos originaram. Para Ribeiro (2014:58) uma visão transdisciplinar da água propicia um diálogo de saberes que nos permite superar o padrão utilitarista do consumo de água

.O paradigma transdisciplinar, que resgata o que foi perdido na relação utilitarista com a água, desponta como facilitador do desabrochar de cidadãos mais conectados com os ciclos naturais do Planeta, capazes de integrar de forma mais equilibrada a dimensão humana do saber, do realizar e da efetividade com a dimensão, feminina e líquida, do sentir, do observar e da afetividade.

A ecopedagogia da água deve evitar a hegemonia da ciência sobre outras formas de representação acerca deste elemento. Afinal, tudo que sabemos não passa de interpretações humanas, individuais ou coletivas sobre o real que, assim como a água, resiste às nossas tentativas de retenção e dominação.

Pensar a água é, também, ouvi-la, senti-la em todos os seus estados (inclusive no estado de bem-aventurança de uma dádiva da vida), experimentá-la em diversas dimensões do sentido: tato, contato, som, luz, fluxos, ruídos, corpo, na dança, em dramatizações e nas artes plásticas e práticas. Para uma educação reflexiva, precisamos ensinar a pensar de forma crítica e criativa. Cientes da incerteza e da incompletude dos nossos saberes, percebemos que somente uma pedagogia do diálogo permanente nos liberta do controle e da educação bancária (Paulo Freire) que acumula saberes insípidos e descontextualizados. (Catalão e Ibañez, 2014)

A nossa Terra circundada de águas é um lugar extraordinário capaz de converter os espaços desertos em espaços de vida e convivialidade, ainda que o homem contemporâneo esteja perdendo cada vez mais a capacidade de perceber-se como ser pertencente à Terra, optando por uma lógica e uma ética instrumental que coisificam todos os seres e mercantilizam as relações humanas. A este respeito Heidegger (apud UNGER, 1991:31) diz:
O modo que calcula e objetiva o real configura o desenraizamento próprio do homem moderno, sugerindo a formação de seres que saibam habitar, morar no sentido pleno, ou seja, respeitar a terra com seus seres, acolher e preservar, deixando o outro ser o legítimo outro com reconhecimento do sagrado e assumindo a morte como parte da vida.

A aposta do projeto Água como matriz ecopedagógica é que a educação como prática de liberdade e de cuidado seja capaz de reverter esta relação de objetivação da vida que transforma em mercadoria tudo que toca, uma versão moderna de Midas que corrói sorrateiramente o nosso porvir. Voltar as coisas mesmas, compreendê-las na sua alteridade, descobrir o que nos une, perceber-se parte de um todo e sentir uma alegria genuína por saber que dentro de nós corre a mesma seiva matriz, nutriz e motriz da vida que irriga o corpo planetário. “Deixar dialogar em nós a água matriz e a água aprendiz. Lembrar o tempo das águas claras do ventre materno onde, imersos e mansos, fomos fluxo e reflexo, nítida consciência do ser inteiro” (Catalão, 2011). Guardar a água que acolhe e a geometria dos seus meandros como nicho da nossa esperança.

O fluxo dos rios e as trilhas humanas

Nosso corpo organiza-se como um rio, nossas artérias como grandes afluentes, nossas veias e capilares como os pequenos cursos d´água que irrigam uma bacia hidrográfica. Assim como a circulação sanguínea regenera continuamente o corpo humano, o circuito das águas nutre o imenso corpo da Terra (Catalão, 2002).
O fluxo do rio é a metáfora inspiradora do trajeto existencial do humano: nascemos fontes, crescemos com tantas outras águas formando o nosso curso e, finalmente, retornamos ao oceano original que nos redime, purifica e liberta. A transitoriedade e a impermanência marcam o destino humano, assim como definem o destino da água. Largo oceano, berçário da vida, horizonte nunca alcançado, encontro sonhado da terra e do céu. 

G. Pineau e Jobert (1989:15) comparam o curso de um rio ao da existência humana e tomam essa imagem como metáfora para as histórias de vida:
« Rio acima está a fonte, a nascente.O passado e o presente agitando-se continuamente nos múltiplos afluentes, influencias, chuvas recebidas, terras atravessadas, barragens e estações. A embocadura é a distância que separa do fim do rio, o futuro com seus projetos e rejeitos, suas aberturas, suas perdas,transformações e ressurgências.As margens são os limites, os diques naturais que contêm as correntes, mas permitem suas formas, sua força, seu colorido e sua paisagem. Fazer sua história de vida é o mesmo que criar seu rio ».

O curso do rio representa o tempo inexorável que limita o inicio e o fim de todos os seres vivos, enquanto que as águas que um dia migraram para as rochas subterrâneas, quando ressurgem nas fontes adquirem o poder simbólico de restaurar a vida e religar o homem às forças cósmicas que geram e sustentam a vida na terra. As bacias hidrográficas, com seus afluentes e área de drenagem, enredam um sistema circulatório, pleno de capilaridades, veias, artérias de forma similar ao sistema circulatório humano. No trabalho de formação realizado com os professores tendo a água como tema, esta imagem foi para nós, uma metáfora perfeita da transdisciplinaridade.

Se a terra nos enraíza, a água e o ar conduzem os movimentos da vida. No nosso planeta a água é o símbolo fundamental dos sistemas circulatórios que replicam os movimentos essenciais em forma de vórtices que ordenam a espiral da vida. Os sistemas circulares nos remetem aos movimentos do ciclo hidrológico, que a princípio nos parecem repetitivos, mas para um olhar reflexivo apresenta-se como um dinamismo autopoiético que renova a estrutura recriando-a sem cessar. Por meio desse movimento rítmico a vida se regula e se renova. A plasticidade desse elemento é tão inusitada e rara que o faz ser o único, em nosso planeta, a assumir os estados sólido, líquido e gasoso.

Theodor Schwenk (1982) concebe a ação dos vórtices da água como um sistema em movimento que reproduz, em pequena escala, as grandes leis cósmicas. A orientação espacial dos vórtices visa o céu e as estrelas e seus movimentos internos imitam o sistema solar. A água é senhora das metáforas, a sua transparência nos devolve o espelho do real de forma fluida e virtual. Esse espelho traz em si um segundo mundo que nos escapa e no qual enxergamos nossa imagem sem poder tocá-la, separados por uma falsa proximidade e intransponível distância.

A partir da materialidade da bacia hidrográfica, propomos construir uma bacia semântica pedagógica inspirada nas chaves de um processo educativo ecopedagógico como o proposto por Gutierrez e Prado (1999). É possível estabelecer relações entre estas chaves e as metáforas da água, na intenção de contemplar os múltiplos significados da Água como matriz ecopedagógica. (Catalão e Moraes, 2008).

O movimento transversal e espiralado que estrutura as bacias hidrográficas inspira uma bacia pedagógica transdisciplinar que religa o corpo humano ao corpo da terra. A água apresenta-se como elemento articulador dos conhecimentos sistematizados, conhecimentos que emergem da prática, conhecimento popular, percepção estética e expressões simbólicas. A água aparece também como traço de união entre a ação local - o rio da minha aldeia - e a perspectiva global - os oceanos. O simbolismo das águas faz ainda conexões entre natureza e cultura e a imaginação material desse elemento nos emprenha de metáforas de religação entre o nosso destino e o devir cósmico. (Catalão, 2006)
Trabalhar com as metáforas permite-nos ir além das dimensões de encantamento e beleza, suscitando análises dos problemas do cotidiano, principalmente aqueles que o Planeta enfrenta em relação à disponibilidade e esgotamento dos recursos hídricos, podendo conduzir a um olhar crítico e atitude responsável diante das situações que se apresentam.

Podemos evocar a bacia hidrográfica de um rio também como chave semântica de uma educação que articula diferenças, conjuga complexidades, separa águas que devem escorrer para outras direções e reúne as que convergem para um mesmo vale. A água que flui da minha fonte faz parte de um mesmo ciclo virtuoso de purificação e circulação das águas planetárias. Águas comunicantes podem nos fazer rememorar a percepção da nossa identidade planetária.

O corpo é uma unidade perceptiva e inteligente capaz de enraizar os processos de aprendizagem. Reconhecer o físico como base primeira, abrigo e terra de onde tudo parte ajuda-nos a compreender a instrumentalidade do corpo, seus poderes de apreensão, expressão, comunicação de movimentos, sentimentos, valores, acontecimentos e formações interiores e subjetivas.

O curso do rio se faz entre o diálogo do tempo circular com o tempo linear. Podemos perceber cada curva, cada remanso como uma exaltação à circularidade original da água e ver nas correntes que impulsionam o fluxo, um diálogo com o vale e outras águas afluentes que trazem a marca das histórias que se sucedem no trajeto de um rio da nascente até a foz. Essas representações podem inspirar uma reflexão analógica entre o curso dos rios e nossas histórias de vida.

Gutierrez e Prado (1999) propõem algumas chaves ecopedagógicas para vivenciar/aprender uma ecocidadania planetária. As chaves favorecem uma pedagogia da pergunta que trabalha valores democráticos e solidários capazes de garantir a sustentabilidade da vida.
• A chave de “caminhar com sentido” sugere uma reflexão sobre o significado e a direção que damos ao percurso de nosso rio. Envolve ainda um sentir reflexivo, cujos caminhos são construídos a partir do sentimento, da intuição, da emoção, da vivência e da experiência, pois a educação “é um processo de elaboração do sentido.
• Para “caminhar em atitude de aprendizagem” podemos abordá-la por meio da lição de uma bacia hidrográfica sempre pronta e receptiva para acolher novas águas, que sejam escuras ou claras, fortes ou fracas, barrentas ou transparentes. Em todas, o rio encontra uma possibilidade de descoberta de outros ritmos e de renovação da paisagem do vale. É também uma metáfora apropriada para trabalhar o respeito às diferenças, isto é, viver a alteridade. Caracteriza-se por processos pedagógicos abertos, dinâmicos, convergentes, antagônicos e criativos, nos quais os principais autores são os seus protagonistas – alunos e professores.
• A chave que propõe “caminhar em diálogo com o entorno” pressupõe que a mediação pedagógica seja centrada na experiência dos interlocutores por meio de conversas fluidas, transparentes, sensíveis. A água é, por excelência, a senhora da escuta, condição essencial para a biologia do amor de que fala Maturana (2002). Para Gutierrez e Prado (op.cit), a interlocução envolve a capacidade de chegar ao outro, de abrir-se ao meio ambiente, de percorrer caminhos de compreensão e reciprocidade, de promover processos e criar redes de aprendizagens;
• Caminhar “re-criando o mundo” nos convida a perceber a água não apenas como elemento e veículo para geração e manutenção de vida, mas como fluxo, adaptabilidade e paisagem para contemplação, encantamento e reflexão que nos mobiliza para agirmos como co-autores da vida e não como algozes. Quando compreendemos a vegetação como mãe e filha das águas, entendemos que o ato de desmatar a nascente implica que ela ficará exposta e poderá secar, remetendo-nos à consciência de que toda e qualquer ação traz uma reação, que precisa ser avaliada no processo, integrando-a aos resultados alcançados. A ecologia da ação nos orienta para um estado de vigília e de revisão dos processos vividos.
• A chave, “caminhar avaliando o processo” abre espaço meditativo para que possamos de forma coletiva avaliar nossa aprendizagem sobre o sentido das coisas. Esta chave nos lembra o tempo do remanso para refletir o nosso ser-estar e nos remete à ecologia da ação conceituada por Morin (1999). . A água resguarda os seres das arestas, da aridez e do peso da gravidade (Catalão, 2006) e assim apresenta-se como metáfora do cuidado essencial de que fala Heidegger e do modo de ser cuidado proposto por Boff (1999).

É possível que ao conjugar as possibilidades da água como matriz ecopedagógica às chaves da ecopedagogia, possamos preencher ausências pedagógicas na educação ambiental, a exemplo do vazio acolhedor da água que favorece os encontros. Para nós educadores ambientais, a riqueza das metáforas é um oceano de possibilidades capaz ressignificar a água para as atuais e as novas gerações. Acreditamos que pelo modo de ser cuidado entrelaçado ao modo de ser trabalho (Boff, op. cit. )realizado cotidianamente, possamos devolver ao planeta Terra a transparência, o fluxo e a limpidez da sua matriz perene de Vida.

CONCLUSÃO

Pesquisas de ponta mostram a capacidade da água para transmitir e gravar informações, as teorias sobre a memória da água, experiências de água estruturada e formas alternativas de purificação da água estão na base de uma mudança paradigmática que se inspira na tradição, mas a supera por uma hidroconsciência que reata tradição e inovação de forma inventiva. 

A educação ambiental precisa cada vez mais de abordagens pedagógicas que aborde a sensibilidade da água de forma vinculada a contextos locais que favoreçam às comunidades, a consciência dos seus problemas e a mobilização para a gestão responsável dos seus territórios de vida, encontrando respostas criativas para enfrentar a crise. Somos parte de uma totalidade biológica e cultural, com dimensões planetária e cósmica, o sentido de pertencimento é fundamental para a sustentabilidade dessa teia da vida. Precisamos de soluções criativas para temas sociais concretos e para invenção de projetos de vida local e de eco-formação capazes de reatar os laços afetivos e estéticos com o rio do nosso sítio, da nossa cidade, com os rios da nossa infância, com as fontes de águas ressurgentes nas nossas serras e montanhas, com o corpo circulatório da Terra que se materializa nas nossas bioregiões delineada pelo contorno sinuoso dos cursos d´água.

Mudar os padrões de consumo implica na mudança de valores e em processos educativos que provoquem simultaneamente mudanças no plano da externalidade e da subjetividade humana, mobilizando a descoberta do enraizamento dos seres humanos nas suas bases biológica e sociocultural. Para sair do impasse é preciso saber obedecer e guiar as forças da vida (Morin, 1993), mas isso demanda o tempo circular da contemplação e da reflexão.
Sabemos que a inserção de homens e mulheres, idosos e jovens, com iguais prerrogativas, no enfrentamento do uso sustentável dos recursos naturais, especialmente da água, constitui uma missão coletiva e um crescente desafio na formação de formadores. Para que isto aconteça precisamos ressignificar os sentimentos e operar uma verdadeira reforma do pensamento como propõe Edgar Morin. A organização em rede, o reconhecimento do outro, o sentimento de pertencimento e cuidado por tudo que vive surgem como novas estratégias para as mudanças políticas e socioambientais que desejamos. Se dermos realmente uma chance a Terra poderá recuperar-se. É preciso ir conjugar a relação de uso com a relação de sabedoria e cuidado (Pineau e Barbier, 1999). A intenção é religar a teia da vida com a teia da cultura dos homens, em um pacto amoroso pela sobrevivência, pela felicidade que tanto sonhamos e sempre adiamos. “Diante de tanta ganância, queremos a água como bem comum. Diante de tanto descaso, queremos a água como bem querer”. (Catalão, 2011)

Juntos, em uma comunidade aprendente que atualmente se entrelaça em uma rede solidária pelas águas já realizamos algumas ações transformadoras e solidárias para com a água, tendo sempre como contexto uma bioregião. É possível que a Educação ambiental seja somente um pretexto necessário para trabalhar a integridade dos processos educativos e a formação global do humano (Catalão, 2006) em qualquer bioma, no campo, na cidade, na escola e outras comunidades de aprendizagem, acolhendo águas que chegam e acompanhando amorosamente as que tomam outras direções. As águas serão sempre ponto de encontro, mesmo quando divisores de água as separam. O ciclo hidrológico nos redime do isolamento. Uma ecopedagogia da água só depende da nossa atenta e amorosa observação para o desenvolvimento de ações éticas, estéticas e tecnológicas pelo bem da Vida em estado de comunhão e graça como uma água benta.

Para nós educadores ambientais, o uso pedagógico das metáforas opera uma verdadeira travessia de sentidos capaz de ressignificar a água para as atuais e as novas gerações. Pela experiência coletiva com modo de ser cuidado entrelaçado ao modo de ser trabalho (Boff, 1999),a água nos coloca em estado de escuta, seja pela sua capacidade de apreender sentidos e informar processos, seja pelo diálogo com a diferença ou pelo simples acolhimento de todas comunidades de vida. Na curva do rio, a historia da humanidade e os mitos de origem se encontram. Fica o convite para atualização desse encontro em ritos modernos que façam dialogar as tradições, a ciência e a experiência cotidiana de homens e mulheres na intenção de devolver, ao planeta Terra, o fluxo e a limpidez da água - matriz, nutriz e motriz de nossas vidas entrelaçadas.

 

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Professora associada do Programa de Pós-graduação da Universidade de Brasília, coordenadora do projeto de ação contínua “Água como Matriz Ecopedagógica e membro do Centro de Estudo Transdisciplinar da Água
– CET- Água.



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