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ESTRADA
GERAL DO SERTÃO
Apresentação
Durante o processo de
investigação para reconstituir antigas rotas de tropeiros,
que ligavam o litoral do Brasil Colônia aos arraiais auríferos
do Planalto Central, surgiram preciosas fontes documentais primárias
fundamentais para o entendimento da formação dos povoados
do sertão brasileiro.
Ao passo que as fontes
eram analisadas, aparecia a denominação Estrada Geral
como referência básica para todos aqueles que se locomoviam
pelo desconhecido sertão da colônia no decorrer dos séculos
XVIII e XIX. Relatos de autoridades coloniais, atas das Câmaras
de Vereadores, crônicas produzidas pelos viajantes europeus
sobre cada local por onde passavam, além da cartografia da
época, foram determinantes para identificar os antigos caminhos
que davam acesso à região do DF.
Ao longo desses caminhos
antigos, surgiram centenas de pousos de tropas e pequenos povoados,
sendo que alguns se prosperaram, enquanto outros perderam a sua importância
e desapareceram.
Um dos locais que perdeu a importância foi o Forte, antiga comunidade
quilombola fincada no pé da Serra Geral do Paranã, pertencente
ao município de São João d’Aliança/GO,
embora o acesso por Flores seja o mais conhecido. Nos mapas produzidos
a partir da segunda metade do século XIX, aparece a denominação
Julgado do Forte, ao meio a dezenas de povoados na imensa província
de Goiás, que ainda contava com as terras do norte, onde surgiu
o Estado do Tocantins. Naquela época os “Julgados”
eram os locais mais importantes das províncias, abrigando uma
instância do Judiciário e um destacamento de polícia.
Dentre os que prosperaram
destaca-se o Arraial de Meia Ponte (Pirinópolis), Arraial de
Santa Luzia (Luziânia), Arraial de Vila Boa (capital de Goiás),
Natividade.Inúmeras pesquisas, orais e documentais, foram
realizadas nestes locais com o objetivo de encontrar trechos intactas
dessas antigas picadas, entretanto algumas são primordiais
por se tratarem de fontes primárias e bastante consistentes.
Veja algumas delas:
- Teodoro Sampaio e sua expedição à Chapada Diamantina
e Rio São Francisco no ano de 1877;
- o roteiro de viagem de Dom Luiz da Cunha Menezes em 1778, quando
saiu de Salvador e seguiu à Vila Boa para assumir como governador
de Goiás;
- a Viagem de Luiz D’Alincourt de Santos à Cuiabá
em 1818; a Corografia Histórica da Província de Goiás,
resultado das viagens realizadas por Cunha Matos em 1824 por todo
o território goiano; as pesquisas realizadas por Saint-Hilaire,
Emanuel Pohl, Martius e Spix; além de tantos outros que passaram
pelas capitanias do interior da Colônia.
Este livro é resultado de um projeto idealizado pelos autores, tendo como base o roteiro de viagem de D. Luiz da Cunha Menezes, quando deixou a cidade de Cachoeira em 1778, no Recôncavo Baiano , e se dirigiu a Vila Boa para assumir como governador da capitania de Goiás.
ROTEIRO:
CACHOEIRA, CHAPADA DIAMANTINA e RIO SÃO FRANCISCO - BA
RIO SÃO FRANCISCO, GRANDE SERTÃO VEREDAS - MG
VÃO DO PARANÃ - GO
ÁGUAS EMENDADAS - DF
SERRA DOS PIRINEUS E SERRA DOURADA - GO
A Estrada Geral
na narrativa de alguns personagens da história
Nas fontes documentais,
acima, a denominação Estrada Geral começa a aparecer
com maior freqüência no decorrer do século XIX,
para designar a estrada principal, a rota de comunicação
que ligava as cidades do litoral com o desconhecido sertão
brasileiro, aquela que ninguém se perdia.
O botânico Martius
e o zoólogo Spix, em 1818, quando deixavam Diamantina
(MG) e seguiam para o sertão goiano do Vão do Paraná,
narraram: “No dia seguinte, continuamos em direção
de N.E. para S.O., até à Estrada Geral do Tejuco para o sertão... um cerrado espesso cobria a região,
que se estendia no horizonte a perder de vista”.
Luiz D’Alincourt, em 1818 na sua obra, Memória sobre
a viagem do Porto de Santos à cidade de Cuiabá, diz:
“A partir de São Paulo”, e tomar a Estrada Geral,
atravessa-se a ponte de Lorena, “após percorrer 335 léguas,
de São Paulo até Cuiabá, D’Alicourt, no
roteiro em direção a cidade do Mato Grosso (Vila Bela
da Santíssima Trindade), na divisa com a Bolívia”.
D’Alincourt ainda utiliza esse nome: “cobre a
Estrada Geral, que vai do Cuiabá para o Mato Grosso,
e seus intermédios estabelecimentos...”.
Engenheiro negro, o baiano
Teodoro Sampaio, em 1880, quando passava pelas minas do Rio das Contas
na Chapada Diamantina, cita: “enquanto que para oeste em direção
a Monte Alto e Carinhanha, através do vale do Rio das Rãs,
se prolonga à Estrada Geral, a mais antiga da região
do litoral, penetrou nestes sertões”.
Para o seu Erasmo de
Castro, personagem histórico de Planaltina, Estrada Geral era
aquela em que ninguém se perdia, já que o seu trajeto
sempre chegava a um povoado ou vila importante. Baseado nessa sabedoria
popular e em consagradas fontes documentais, podemos concluir que
esse termo foi utilizado de forma genérica, em roteiros distintos,
independente dos locais que interligavam, para designar aquela via
de comunicação principal, comum às diversas capitanias. |
As Picadas no
Planalto Central
Até a terceira
década do século XVIII, já havia três importantes
picadas de tropeiros que saíam dos centros desenvolvidos do
litoral - Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo - adentravam
o ermo sertão brasileiro para alcançar as longínquas
regiões auríferas do Brasil Central. Entretanto, neste
momento vamos dar um destaque especial à Picada da Bahia, uma
vez que se trata do objeto de pesquisa do Instituto Cerratense Paulo
Bertan, cujos membros realizaram uma expedição passando
em inúmeros locais dessa antiga picada percorrendo o sertão
dos Estados da Bahia, Minas e Goiás.
O Caminho dos Paulistas
foi a primeira picada oficial que adentrou as minas do Planalto Central,
talada por Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera II, em 1725,
após a descoberta de ouro nas terras da tribo Goyá.
Ele chefiou a expedição povoadora e fundou o Arraial
de Sant'Ana, que depois recebeu o nome de Vila Boa de Goiás
em homenagem ao descobridor de suas minas. Essa estrada, conhecida
como o Caminho dos Paulistas, saia da Vila de Piratininga acompanhando
o curso do Tietê, até adentrar a Capitania de Goiás
pelo registro do Rio Grande na divisa com Minas, atual região
do Triângulo Mineiro. Em terras goianas, a estrada passava pelos
Arraiais de Santa Cruz, Bonfim (Silvânia), até alcançar Meia
Ponte (Pirenópolis), local onde convergia com Picada da Bahia
e a Estrada Real; seguindo, posteriormente, para Vila Boa (Cidade
de Goiás), antiga capital.
A Picada de Goiás
era o trecho da Estrada Real de Minas que chegava a terras goianas.
O governo contratou Urbano do Couto Menezes para abrir essa estrada,
que interligava as Minas Gerais e o Rio de Janeiro com os arraiais
auríferos goianos. Essa rota começava em Parati, no
Rio de Janeiro, passava por São João Del Rei, e depois
atravessava uma imensa região pouco povoada, para chegar às
minas de Paracatu, em Minas Gerais. Daí adentrava a capitania
de Goiás pelo importante registro de Arrependidos, localizado
no Arraial de Santa Luzia (Luziânia), seguindo posteriormente
para Corumbá, Arraial de Meia Ponte e Vila Boa.
A Picada da Bahia ligava
o sertão do Planalto Central com a região Nordeste.
Começava na Vila de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, passava
por Cruz das Almas, Castro Alves, e Iramaia até chegar as Minas
do Rio de Contas, o mais importante Arraial do interior baiano, naquela
época. Dali, a estrada seguia até as margens do
Rio São Francisco, chegando a Carinhanha e ao Registro de Malhada,
onde cobrava-se o imposto Direitos de Entradas, sobre o gado
e escravo que eram levados para trabalhar na mineração
em Goiás e Mato Grosso. A partir de Carinhanha havia duas rotas
para chegar ao Planalto Central: a primeira, seguia navegando o
Rio São Francisco até Porto de Salgado (Januária),
São Romão, para alcançar o Rio Paracatu; e a
segunda opção era por terra, a partir de Carinhanha
seguia em direção ao registro de Santa Maria, em Formoso
(MG), na região do Grande Sertão Veredas, acessando
facilmente o Arraial dos Couros pela imensa região do Vã500
O trecho da Picada da
Bahia continuava em direção as terras onde Luiz Cruls demarcou
o Distrito Federal, cento e cinqüenta anos depois. Cortava todo
o quadrilátero, de leste a oeste, passando pelo Pouso do Mestre
d’Armas (Planaltina) na região das Águas Emendadas,
São João das Três Barras (FERCAL) em Sobradinho),
e Vendinha em Brazlândia. O destino seguinte era o Arraial de
Meia Ponte (Pirenópolis) e, por último, a capital goiana,
Vila Boa.
Em Meia Ponte e Vila
Boa, surgiu também uma nova estrada que dava acesso ao norte
do país: era a Estrada do Norte, interligando
os núcleos de povoamento das regiões auríferas
do Tocantins (Traíras, Cavalcante, Arraias, Natividade, Porto
Real e Vila da Palma), às estradas que levavam aos portos do
litoral, nas capitanias do Grão Pará e Maranhão.
Como se vê, todas
as principais rotas do Brasil Colônia, que davam acesso ao Planalto
Central, convergiam para os Arraiais de Meia Ponte
e Vila Boa, antiga capital do Estado de Goiás; transformando-se,
a partir da daí, em apenas uma, no Estradão de Cuiabá,
para adentrar a imensa capitania do Mato Grosso, chegando até
a fronteira com a Bolívia, onde mais tarde foi construída
Vila Bela da Santíssima Trindade (MT).
Segundo as autoridades
portuguesas e paulistas, esse emaranhado de picadas que convergiam
para os Currais do São Francisco, facilitava demasiadamente
a ação dos contrabandistas. Uma expressiva quantidade
de ouro extraído nas minas goianas chegava facilmente
aos portos das Capitanias do Maranhão, Grão-Pará
e Bahia. Depois, esse metal era enviado para França,
Espanha, Holanda e Inglaterra, principalmente.
Em alguns momentos da
história, a Estrada dos Currais tornou-se estrada real, onde
se permitia a livre circulação do ouro. No entanto,
durante boa parte do Brasil Colônia, fora denominada como “descaminho”
pelas autoridades, cuja argumentação era evitar o contrabando
de pedras preciosas, levando o governo a adotar sérias medidas
proibitivas para ter pleno controle dessa rota.
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Mapa produzido por Raimundo José da Cunha Matos, nos mostra com detalhe, o trecho da Picada da Bahia que atrevessava o Distrito Federal.
Essa picada passava por Couros, Sítio Novo, Mestre d'Armas, Sobradinho, Contagem de S. João das Três Barras, Rodeador e chegava a Pirenópolis.
Por ela passou D. Luiz da Cunha Menezes, o Fanfarrão Minésio, quando deixava a cidade de Salvador para assumir como governador da Capitania de Goiás. |
V O L T A R
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