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ECORREGIÃO URUCUIA
GRANDE SERTÃO VEREDAS
Por Xiko Mendes
João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo-MG a 27/6/1908 onde viveu até 1918 fixando-se em Belo Horizonte. Sua estreia literária se deu com a publicação de um conto na revista “O Cruzeiro” (Ed. nº: 57, em 7/12/29). Diploma-se em Medicina. Em 1936 é premiado pela Academia Brasileira de Letras (ABL) pela coletânea de poemas Magma. Torna-se funcionário do Ministério das Relações Exteriores a partir de 1934. Serve o País na Alemanha, na Colômbia e na França. Retorna ao Brasil em 1951. No ano seguinte viaja para o sertão de Minas Gerais.
Em 1963 é eleito membro da ABL por unanimidade, mas não toma posse por opção (ou superstição?). Morre em 19/11/1967, três dias depois de tornar-se imortal da ABL. São obras de sua autoria: Magma (1936), Sagarana (1946), Corpo de Baile (1956), Grande Sertão: Veredas (1956), Primeiras Histórias (1962), Tutaméia (1967), Estas Histórias (1969) e Ave, Palavra (1970). Corpo de Baile foi reeditado posteriormente em três volumes: “Noites do Sertão”, “No Urubuquaquá, no Pinhé” e “Manuelzão e Miguilim”. Diplomata, médico, contista, romancista..., foi como literato que ele se consagrou, mundialmente, como um dos maiores escritores regionalistas de todos os tempos em Língua Portuguesa.
A área da bacia hidrográfica do Urucuia, que serviu de cenário para o romance Grande Sertão: Veredas, foi homenageada em 1989 com a criação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Desde meados dos anos 2000 tenta-se formar a territorialização de uma microrregião nesta área. Chamada de Microrregião Urucuia/Grande Sertão, ela inclui os municípios mineiros banhados por esse rio e Cabeceiras-GO. Porém, como Formoso e Cocos são os municípios com maior extensão de terra dentro dessa unidade de conservação, sugerimos aqui a renomeação dela para Ecorregião Urucuia-Grande Sertão Veredas. Ecorregião é uma unidade biogeográfica que contém um conjunto de comunidades biogeograficamente distintas, mas que compartilham a maioria das espécies, dinâmicas e processos ecológicos.
Localizando Formoso-MG na Ecorregião do Grande Sertão Veredas
com base no romance homônimo de Gumarães Rosa
Embora não haja consenso entre os estudiosos, é certo que em seu itinerário pelo Norte-Noroeste de Minas em 1952, acompanhado de um repórter fotográfico da revista “O Cruzeiro”, Guimarães Rosa passou por diferentes lugares, muitos dos quais com toponímia ainda não identificada. Um deles pode ter sido Formoso, tamanha a quantidade de citações que faz sobre o nosso município e a região circundante ao Marco Trijunção. Há, conforme a tradição oral, uma versão segundo a qual ele hospedou-se na Fazenda Sítio do Meio, do Sr. Ramiro Gomes Ornelas, nas proximidades do Quebra-quinaus, único córrego de Formoso citado em seu “Grande Sertão: Veredas”, editado em 1956. Confira neste trecho inicial do romance:
“O senhor vá. Alguma coisa, ainda encontra. Vaqueiros? Ao antes – a um, ao Chapadão do Urucuia – aonde tanto boi berra... Ou no mais longe: vaqueiros do (...) Córrego do Quebra-quinaus: cavalo deles conversa feito cochicho – que se diz – para dar sisado conselho ao cavaleiro, quando não tem mais ninguém perto, capaz de escutar. (...). Dali para cá, o senhor vem, começos do Carinhanha e do Piratinga filho do Urucuia – que os dois, de dois, se dão as costas”(1).
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Podemos notar aqui a veracidade dessas informações tomando como referência o fato de que o Córrego Sítio do Meio deságua no Quebra-quinaus e este, por sua vez, desemboca no Piratinga, rio que nasce nas contravertentes da Serra Geral de Goiás ou Santa Maria do Paranã, dentro de Formoso. Não muito distante ou “dali para cá” está a cabeceira do rio Carinhanha, área historicamente ocupada por formosenses desde o século XIX. Guimarães Rosa nos remete aqui à fronteira ocidental do atual Parque Nacional Grande Sertão Veredas, criado por decreto federal em 12 de abril de 1989.
Parece-nos não pairar dúvida, também, que aqui o autor refere-se, ainda que implicitamente, à dita Fazenda Sítio do Meio – ponto hipotético de sua hospedagem – que àquela época era bastante representativa quanto à criação de gado, principal fonte de renda de Formoso até meados da década de 1970. A vaquejada assim como as boiadas eram tradições muito vivas nesta época por estarem na base da colonização pecuária de nosso Município desde suas remotas origens nos fins do século XVIII (1778); (2).
Em sua consagrada epopeia sertaneja, Guimarães Rosa vai ambientando seus personagens em mais de cinco dezenas de localidades do Noroeste-Norte de Minas, e nas fronteiras Leste de Goiás e Sudoeste da Bahia, fazendo de algumas delas “pólos laterais” ou “pólos centrais” de sua extensa narrativa (3)
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O “Centro Literário” do enredo de Grande Sertão: Veredas está situado às margens direita e esquerda da Bacia do São Francisco, municípios de Várzea da Palma (ponto de partida) e Buritizeiro (combate final entre os jagunços), respectivamente. A trajetória de Riobaldo Tatarana – o narrador-personagem do romance – inicia no Córrego do Batistério, no Baixo Rio das Velhas. De lá percorre toda a zona leste do Velho Chico até a divisa MG/BA através do rio Verde Grande. Sobe, novamente, o Velho Chico até a barra do Urucuia, circula pelos atuais municípios de São Romão, Pintópolis, São Francisco, Chapada Gaúcha (leia: Serra das Araras) e Januária. Aqui, Riobaldo dirige-se para Formoso. Vejamos:
“(...). Se passava o Piratinga, que é fundo, se passava: ou no Vau da Mata ou no Vau da Boiada; ou, então, pegando mais por baixo, o São Domingos, no Vau do José Pedro. Se não, subíamos beira desse, até às nascentes, no São Dominguinhos. A ser o importante, que se tinha de estudar, era avançar depressa nas boas passagens nas divisas, quando militar vinha cismado empurrando. É preciso de saber os trechos de se descer para Goiás: em debruçar para Goiás, o chapadão por lá vai terminando, despenha. Tem quebra-cangalhas e ladeiras terríveis vermelhas. Olhe: muito em além, vi lugares de terra queimada e chão que dá som – um estranho. Mundo esquisito! (...). Por aí, extremando, se chegava até o Jalapão (...)”.(4).
Guimarães Rosa, que na fala introdutória de Riobaldo já tinha mencionado as Subbacias Hidrográficas do Alto Médio Piratinga e do Alto Carinhanha, aqui se prende a dar a localização precisa da terceira e última Subbacia do nosso Município – a do Alto São Domingos, atual divisa entre Formoso e Buritis concluindo seu trabalho de identificação ecossistêmica sobre Formoso.
A menção a um suposto córrego São Dominguinhos pode ser uma “licença poética” do autor já que ele não existe em nossa hidrografia. É provável que tenha se referido ao Córrego Gameleira, que deságua no ribeirão Santa Maria, (ou “Extrema-de-Santa Maria”, como insinua o autor), afluente do rio Paranã, em Goiás. A hipótese confirma-se ao mencionar as “boas passagens nas divisas” entre os territórios mineiro e goiano que são, orograficamente, separados pela dita Serra Geral, lugar íngreme, de trânsito difícil, e à época devastado por queimadas, prática anti-ecológica comum entre nossos pecuaristas de antanho.
Como o Jalapão – sul do atual Estado de Tocantins – não constava do roteiro de viagem dos “jagunços roseanos”, Riobaldo faz uma viagem de retorno pelo mesmo caminho, (Estrada Formoso-Januária?), atravessa o São Francisco e vai até a margem direita do alto Verde Grande. Novamente, retorna para a zona ocidental do Velho Chico até o vale do rio Paracatu, desce para o Urucuia, outra vez, circula pelos municípios de Arinos, Buritis, etc; e entra no “Liso do Suçuarão” – nome que G. Rosa deve ter inventado para se referir à estrada de cavaleiros e tropeiros conhecida na região como Rabo (ou raso) da Suçuarana, que antes da inauguração de Brasília-DF ligava o Vão do Paranã (Nordeste Goiano) e os Gerais do Sudoeste da Bahia com o Noroeste-Norte de Minas, via Formoso, em direção a Januária, entreposto comercial de abastecimento dessas populações até a década de 1960.
Neste trajeto de quase regresso, Baixo Urucuia-Alto Carinhanha, Riobaldo, mais uma vez, cruza o território de Formoso-MG e segue para a Bahia à procura de seu grande inimigo, Hermógenes (Saranhó Rodrigue Felipe), homem endiabrado, proprietário de terras no Marco Trijunção:
“...seguimos. Dali, antes, a gente tinha passado o Alto Carinhanha – lá é que o Rei-Diabo pinta a cara de preto. Onde chegamos na aproximação do lugar que se cobiçava (...) A terra dele (de Hermógenes), não se tinha noção qual era; mas redito que possuía gados e fazendas, para lá do Alto Carinhanha, (...) nos gerais da Bahia. (...). Olhe: o rio Carinhanha é preto (...). Ê vida! ... Passado o Porto das Onças, tem um fazendol. Ficamos lá umas semanas, se descansou. Carecia. Porque a gente vinha no caminhar a pé, para não acabar os cavalos, mazelados” (5).
A indicação geográfica é claríssima! A região entre as cabeceiras dos rios Itaguari (Cocos-BA), Corrente (Sítio d’Abadia-GO) e do córrego Tabocas (Formoso de Minas) foi escolhida por Guimarães Rosa como a sede de uma das fazendas de Hermógenes – “o Pactário”, maior antagonista de Riobaldo – a quem se atribuía poderes mágico-diabólicos no comando de seus “judas” (jagunços). E é aí nessa fronteira entre Formoso e os municípios vizinhos que Hermógenes torna-se invulnerável.
Além de suposto esconderijo de capangas, este é um dos lugares mais importantes na obra “Grande Sertão: Veredas” porque é aí – no Marco Trijunção – que Hermógenes, num processo de transmutação zooantropomórfica, se reencarna como “rei-diabo”, como “cramulhão”, “bode preto”. Em Formoso, os moradores mais antigos do Alto Carinhanha ainda conservam essa lenda segundo a qual quem monta em um bode preto, assina um pacto com o “Demo” e fica rico pelo resto da vida. Nesta área também estão situadas as Fazendas Trijunção – transformadas em Reserva Particular de Patrimônio Natural.
Riobaldo, não encontrando Hermógenes, captura a esposa deste como prisioneira e, outra vez, transita pelo Oeste de Formoso, divisa MG/GO, atravessa a Mata do rio São Miguel (Unaí/Buritis) e o rio São Marcos. No Tamanduá-Tão (município de João Pinheiro-MG, sua provável terra natal), Riobaldo mata Ricardão – co-autor do assassinato de Joca Ramiro – e aí caminha-se para o combate final na vila Paredão de Minas, distrito de Buritizeiro, à margem do Rio do Sono, na foz com o rio Paracatu.
Aqui, Diadorim, ex-morador(a) de Lassance, filho(a) de Joca Ramiro e companheiro(a) de Riobaldo – numa mistura de amor/amizade – é morto(a) por Hermógenes, mas antes do último suspiro num duelo de facas – “o diabo na rua no meio do redemoinho” – também mata seu algoz. Riobaldo, o sobrevivente, no enterro de Diadorim descobre que ele(?) era mulher, abandona a jagunçagem e se convalesce na Fazenda Barbaranha, de Josafá Jumiro Ornelas. (Obs.: este personagem, com certeza, foi também inspirado no Coronel Joaquim Gomes Ornelas, 1865-1935, líder político em Sítio d’Abadia, mas nascido em Formoso, e que freqüentava Januária, com carros-de-boi, levando e trazendo mercadorias). A história termina com Riobaldo, casado com Otacília, indo morar numa das fazendas do Coronel Selorico Mendes, pai e padrinho dele.
“Ora vez, que, desse jeito, fomos entortando, entre as duas chapadas, encalço da estrada do rio. E se chegou na fazenda (...) Barbaranha dita, em um lugar redondo e simples, no Pé-da-Pedra. (...). Mas acrescento que o dono, no atual, era um seo Ornelas – Josafá Jumiro Ornelas, por nome todo. (...). Soubessem que esse seo Ornelas era homem bom descendente, posseiro de sesmaria (...), compadre que era do Coronel Rotílio Manduca (...). Seo Ornelas me intimou a sentar em posição na cabeceira (...). Mas seo Ornelas permanecia sisudo (...). Mas, nos tons do velho Ornelas, eu tinha divulgado um extra-vago de susto (...). ...o seo Ornelas relatou a gente diversos casos. (...). O qual se deu da parte da banda de fora da cidade de Januária. (...) seo Ornelas departia pouco em descrições. (...). ...seo Ornelas, senhor de prosa muito renovada. (...) O seo Ornelas honrava os atos. (...). Seo Ornelas externou as despedidas, com o x’totó de foguetes...” (6).
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Fonte: MENDES, Xiko. BAGOMINAS: Guia Cultural e Eco-turístico do
Entorno do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Bsb: Funarte, 2013, p. 17.
Após esta síntese incompleta do “Grande Sertão: Veredas” não temos dúvida de que Formoso de Minas, apesar de se colocar na obra como uma das fronteiras literárias do enredo, mereceu de Guimarães Rosa um tratamento especial. Se a centralidade da narrativa tem como focos principais os municípios de Buritizeiro, Várzea da Palma, João Pinheiro e Paracatu, por outro lado, há de se acrescentar que a suposta transformação de Hermógenes em Diabo ocorre, exatamente, entre Formoso e Cocos ou, como diz o próprio autor, “para lá do Alto Carinhanha”, hoje dentro dos limites territoriais do atual Parque Nacional Grande Sertão Veredas, que tem a maior parte da área dentro de Formoso e Cocos.
Retomando o início do dito romance, se literariamente Guimarães Rosa centraliza seu enredo na beira do rio São Francisco; geograficamente, parece-nos que houve um deslocamento desse “suposto” centro para o Alto Carinhanha ou Marco Trijunção – encontro do NORDESTE (Cocos-BA), com o CENTRO-OESTE (Sítio d’Abadia-GO) e o SUDESTE (Formoso de Minas) – talvez por julgar que aqui, de fato, o ecossistema é genuinamente constituído de GERAIS, aqui tomado como sinônimo de sertão, desertão, lugar desabitado, não civilizado, embora lá vivessem populações tradicionais isoladas do Brasil litorâneo.
Observe o que diz Guimarães Rosa, logo no primeiro parágrafo, quanto à idéia que ele tinha sobre a localização ecológico-geográfica do Grande Sertão Veredas como ecorregião:
“O senhor tolere: isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia. (...). Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. (...). O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho.(...)”. (7).
Mas tem gente que parece ignorar a “geografia roseana”. Em reportagem do Correio Braziliense, (edição de 18/5/03, p.15), um representante de Chapada Gaúcha-MG afirmou:
“Aqui é serra alta, onde tudo se encontra. Aqui é a união dos municípios de São Francisco, Arinos, Formoso e Urucuia. Lugar das nascentes dos rios Pardo, Ribeirão {das Areias} e Santa Rita. Todas as águas correm para o São Francisco”.
Em seguida, o CB corrobora a afirmação:
“A região é o berço do livro Grande Sertão: Veredas, onde João Guimarães Rosa buscou os personagens do belo romance épico brasileiro. É também o local que sofreu uma violenta devastação e agora passa por um processo de recuperação do verde”.
Portanto, não há dúvida de que qualquer debate que se faça em torno dos limites de localização da Ecorregião Urucuia-Grande Sertão Veredas tem que considerar três critérios fundamentais:
1) – o romance de Guimarães Rosa; 2) – Os limites da unidade de conservação dentro desta ecorregião; 3) – o município que detém a maior quantidade de nascentes em grande volume de água nesta área para a Bacia do São Francisco.
Quanto ao primeiro critério, como já foi assinalado neste texto, o centro literário do enredo do romance “Grande Sertão: Veredas” não é o Vale do Urucuia. Neste sentido, nem Formoso, nem Chapada Gaúcha, nem outro município qualquer nesta Ecorregião, pode advogar a idéia de que aí encontra-se o “berço do livro”, pois o Urucuia é, na verdade, um “pólo narrativo” importante na obra e não necessariamente o centro de seu imaginário épico-ecossistêmico. Quanto ao espaço territorial ocupado pelo Parque Nacional Grande Sertão Veredas – que deve ser, sim, a mais importante referência geográfico-ecológica para identificar a ecorregião homônima – Formoso-MG cedeu 70% de seu território para os domínios desta Unidade de Conservação – o que, neste caso, dá a este município a condição privilegiada de ser, não o centro porque não há centro, mas a “zona de centralização político-administrativa da Gestão Ambiental de toda a Ecorregião”.
Não se pode também atribuir à Chapada Gaúcha a condição de ser a “zona de confluência das águas de toda esta Ecorregião”, pois é no município de Formoso, na área banhada pelo ribeirão Mato Grande e pelo Rio Preto, ambos em seu território e ambos afluentes do rio Carinhanha, que está localizada grande parte desta Unidade de Conservação.
Se tomarmos o conceito de manancial como zona de recarga hídrica – referencial importante para a elaboração de políticas de recursos hídricos – veremos que em Formoso estão localizadas não só as cabeceiras do Carinhanha e de seus afluentes já citados como também as nascentes dos rios Piratinga e São Domingos, que são grandes formadores do Urucuia (rio-referência na narrativa do romance em questão). Formoso é, não a fronteira, mas o local que centraliza o foco político e ecológico das questões ambientais que envolvem toda a Ecorregião Urucuia-Grande Sertão Veredas, por concentrar em seu território municipal boa parte das condições naturais que justificaram a criação desta Unidade de Conservação, em 1989.
O território desta Ecorregião – entendida aqui como unidade biológica e cultural – é formado por todos os municípios limítrofes ou vizinhos à mencionada unidade de conservação e, como tais, estão localizados na zona de amortecimento: Formoso, Chapada Gaúcha, Arinos e Buritis, em Minas Gerais; Sítio d’Abadia e Alvorada do Norte, em Goiás; e Cocos-BA. Todos estes municípios devem, obrigatoriamente, estar conscientes de suas responsabilidades institucionais quanto à preservação da cultura e do meio ambiente circundante à Ecorregião sem que nenhum deles arrogue o pretenso direito de ser a zona de confluência das águas ou de idéias relativas à conservação deste importante ecossistema brasileiro.
Qualquer boa ideia que venha se somar aos esforços a favor da Ecorregião Urucuia-Grande Sertão Veredas deve ter a compreensão holística de que todos nós somos co-responsáveis pela construção do desenvolvimento sustentável nos municípios situados no território ecorregional. Reportagens como a que reproduzimos e outras como a que também foi publicada pelo Correio Braziliense (edição de 7/7/04, p. 1-8), em forma de suplemento com o título “Grande Sertão: (O Parque)”, dando outra vez a Chapada Gaúcha um status de cidade-centro dessa Ecorregião, só contribuem para dificultar o entendimento político e cultural no processo de institucionalização desse grande projeto em prol da unidade dos povos que vivem no entorno do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. A sua escola tem muito a contribuir com esse debate. E o primeiro passo é fazer com que seus professores e alunos como você conheçam o Parque.
FONTE: MENDES, Xiko. Eco-história Local: Formoso em sala de aula. Bsb/Formoso-MG: UNIFAM/Prefeitura Municipal, 2007.
Notas Bibliográficas:
1- Rosa, Guimarães; Grande Sertão: Veredas, 33ª impressão, Rio, Nova Fronteira,1988; pág. 22.
2- Todas as referências sobre Formoso-MG foram extraídas de Mendes, Xiko; Formoso de Minas no final do Século XX – 130 Anos!, Edição da Prefeitura Municipal, Formoso-MG, 2002.
3 – Além do romance de Guimarães Rosa, utilizamo-nos como fonte para identificar lugares e personagens neste ensaio os seguintes livros: Viggiano, Alan; Itinerário de Riobaldo Tatarana; Brasília, Editora Comunicação/INL, 1974; e Valadares, Napoleão; Os Personagens de Grande Sertão: Veredas; Editora Andrequicé, Brasília, 1982.
4 – Rosa, Guimarães; op. cit. p.45.
5 – Id. Ib. p. 397-408.
6 – Id. Ib. p. 454, 19.
7 – Id. Ib. p. 01. |
Fonte: http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/mosaicos/
mapa-grande-sertao.jpg, acesso em 5/7/15.
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