PRINCIPAL

ARTE
CULTURA

LITERATURA
REGIONAL

PROJETO ABCERRADO

ARTIGOS
PESQUISAS

MÍDIA/CONTATO
EQUIPE


   

 

Arraial de São Sebastião de
Mestre d'Armas

Mário Castro


Arraial de São Sebastião de Mestre d’Armas 
Mario Castro

 

Ao iniciarmos a composição deste ensaio, deparamo-nos com quatro situações básicas como suporte para compreendermos o processo de povoamento do Sítio de Mestre d’Armas, depois, Arraial de São Sebastião (de Mestre d’Armas): 1. A carta de Pero Vaz de Caminha, responsável pelo diário de bordo de Cabral, que mostra claramente os interesses dos colonizadores; 2. A passagem da bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera II) de 1722 a 1725 por terras do Planalto, e, em específico, as terras, que abrigavam das comunidades indígenas Quirixás e Goiá; 3. O estabelecimento da Capitania de Goyaz, grande território; e, finalmente, 4. O aparecimento de um Sítio, nas imediações do divisor de águas do Planalto, com a referência de um morador no lugar, de cognome Mestre d’Armas (que mais tarde, serve como espaço para o acolhimento do Arraial de São Sebastião (de Mestre d’Armas).

4. O aparecimento de um Sítio, nas imediações do divisor de águas do Planalto, com a referência de um morador no lugar, de cognome Mestre d’Armas (que mais tarde, serve como espaço para o acolhimento do Arraial de São Sebastião (de Mestre d’Armas).

Há um fato, que o citamos como afirmação, não menos relevante: o ilustre pesquisador e Professor Paulo Bertran, e nós, no momento de localização das Sesmarias dessa região, para o seu livro: “História da terra e do homem no Planalto Central”, desvelamos um ponto minúsculo: a existência de um Povoado, com a denominação de “Barreiros”, que através de investigações, e averiguações posteriores, supomos ter acontecido no Parque Ecológico das Águas Emendadas.


Ao retornarmos às situações iniciais, buscamos a “Carta”, documento esclarecedor, com subsídios de informações, de que os civilizadores portugueses queriam buscar o interior das terras descobertas, Eldorado Brasileiro, para encontrarem: ouro, prata e pedras preciosas. Com isso, o estabelecimento da “Linha” do “Tratado de Tordesilhas” limitava o território, que fora preenchido pelas Capitanias Hereditárias; esse domínio relativo das terras e suas riquezas, determinou a abertura trilhas ou caminhos possíveis, além dos limites, com as possibilidades de achamentos das riquezas e do Planalto Central.

A Bandeira do Anhanguera foi um acontecimento real e verdadeiro de que a busca, empreendida nos primeiros anos por Sebastião Marinho e próprio pai do Bartolomeu Bueno (Anhanguera, também), anos antes, continuaria no importante calendário de eventos. Depois disso tudo, é determinante afirmarmos, que Anhanguera estivera na região Planaltina, depois de análise acurada das informações de José Peixoto da Silva Braga, o seu roteirista e escrivão mor de sua Bandeira. Depois, essa expedição de Anhanguera retorna aos planaltos goianos, fundando e criando vários povoamentos antigos, como: Ferreiro, Anhanguera, Barra, hoje Buenolândia e Arraial de Santana, depois Vila Boa, hoje Cidade de Goiás. Considerado como o “Pai de Goiás”.


Não se trata de um fato pitoresco: “O estabelecimento da Capitania de Goyaz” faz parte do primeiro relato e ajuntada de documentos, com esse respeito, são do Pe. Souza e Silva, em 1812. Embora, Professor Paulo Bertran tenha encontrado documentos mais remotos, relacionados no seu trabalho: “Notícia Geral da Capitania de Goiás, 1783. Souza e Silva é o historiador mais antigo, que trata os acontecimentos das Bandeiras na Capitania e relaciona a formação dos povoamentos mais antigos nessa mesma Região.
E, por último, conforme os arquivos do Museu das Bandeiras, Cidade de Goiás, encontramos registros, que datam de 1790 e 1810. Nota de que havia um Sítio, denominado de Mestre d’Armas, onde os moradores (criadores e agricultores, numa ação de subsistência) pagavam dízimos à Coroa, através da Província de Goiás. Nesse tempo, as Minas de Santa Luzia (Luziânia) e Santo Antonio (Formosa), já encontravam-se esgotadas.

Esses dizimeiros, ocupantes de terras autorizados por Sesmeiros (verdadeiros donos dessas terras) ou não, formavam uma população dispersa de algumas centenas de pessoas, entre famílias, trabalhadores e escravos.  É justo reafirmar, que naquela data limite (1790), havia mais de 13 mil pessoas circulando entre as Minas de Santa Luzia (Luziânia) e Minas de Santo Antonio (Formosa).


As doenças endêmicas dessa época, mais comuns e perigosas, segundo as informações dos antigos eram: a malária e a febre amarela, transmitidas por picadas de mosquitos; e, a doença de chagas que é uma infecção causada pelo protozoário cinetoplástida, popularmente entendida como doença de picada do “barbeiro”.


Ainda, que não houvesse o contágio direto, nesses três casos, é do conhecimento popular, que esses voadores eram encontrados em grande escala às margens do Rio Maranhão e de seus afluentes; São Bartolomeu e seus signatários. E no caso dos barbeiros, sabe-se que os mesmos sempre se entrincheiravam nas frestas das paredes de taipa ou adobe ou, ainda, nas cascas das árvores dos cerrados.
Não havia a cultura de adoção dos cuidados sanitários, menos ainda o tratamento médico ou científico, que resolvesse, com prontidão, quaisquer dessas doenças, em separado, ou como combinação fatal e factual das três endemias juntas.
O tratamento passava pela medicina caseira, com a manipulação de plantas ou raízes, ou se submetia à crença nas benzedeiras.


Os antigos sempre relataram sobre a Quina, Quinina ou Extrato de quina e os seus poderes curativos da febre amarela e malária. Ainda sobre o chá de casca do Pau-pereira, com as mesmas finalidades e propriedades.

O que afirmar diante de uma epidemia, dessas, irreverente que esses remédios caseiros não dessem jeito. Ou que não houvesse esses remédios, em quantidade suficiente, para o tratamento da moléstia em uma quantidade grande de pessoas acometidas pelo mal.


O certo é que houve uma epidemia avassaladora entre os habitantes e moradores no Sítio de Mestre d’Armas. Muita gente estava morrendo e a preocupação reinante não encontrava saídas conhecidas para a solução do grave problema. Remédios, plantas e benzimentos não eram suficientes.

Quando os meios mais próximos e viáveis falham, o ser humano recorre às suas crenças e à fé como alternativas para a solução dos graves problemas.

Essas comunidades antigas eram acompanhadas e orientadas por padres, maioria das vezes, jesuítas. O catolicismo residia, desde os primeiros momentos da formação de um Povoado, através do sinal da cruz, do exercício das catequeses, das presenças das “desobrigas”, ou das construções das igrejas. Mas, o quase silêncio da religião produzia um catolicismo esvaziado nas visitas, chamadas “desobrigas”, que respondiam por algumas cerimônias: celebração de missas, realização de rezas, casamentos e batizados. Diferente dos grandes Centros com a oficialização das Paróquias e construção de grandes e portentosas igrejas.  

Os Santos, mais do que os padres, respondiam os pedidos e promessas dos fiéis. Os mais requisitados eram contemplados com, além da crença, templos em suas homenagens ou tornavam-se padroeiros dos lugares: Arraiais, Povoados, Vilas ou Cidades. Assim, há uma lista de “Nossas Senhoras”, quando a principal a Senhora Aparecida; Santo Antonio, São João, São Sebastião, São Benedito, São Pedro, Santa Bárbara, São Judas Tadeu e São Francisco de Assis, dentre outros.

A escolha do Santo para a realização da promessa deve ter seguido, com urgência, algum critério: São Francisco de Assis tem uma história bonita, quando abandona a vida mundana para se tornar um frade da mendicância, Itália entre 1182 e 1226, e, criador da ordem denominada: franciscanos. Santo dos pobres, dos animais e das causas impossíveis; NS Aparecida com uma imagem encontrada por escravos, torturados, oprimidos, realizadora de prodígios. Milagres e milagres são resultantes da recorrência de seu santo nome; e São Sebastião, que recorda a passagem de um soldado romano, por volta de 283 d. C., que teima a sua crença no cristianismo e sofre duras punições, graves e fatais: a primeira foi amarrado e agredido por inúmeras flechas, tendo sido curado e sobrevivido; e, a segunda foi espancado até a morte, tendo sido deixado ao lixo.

Uma das principais cidades do país, Rio de janeiro, fundada por Estácio de Sá, indicou, como santo padroeiro, o mártir São Sebastião. Aí, foi fundada em 1676 a Sé Metropolitana da respectiva Província Eclesiástica, com o comando de 252 paróquias.

As pessoas do Sítio de Mestre d’Armas escolheram São Sebastião como o Santo da promessa: passado o mal endêmico e cruel, os moradores doariam para o mártir, meia légua de terra por uma, para construção de uma igreja e um Povoado de devotos do Santo.


O Sítio de Mestre d’Armas conserva essa denominação (de Sítio) até 1810. A partir de 1811, (20 de janeiro como data provável) o Povoado de dizimeiros aparece com a existência de um cemitério (que é o indicativo de que havia, também, uma igreja. Pois, os cemitérios eram em volta das igrejas e no seu interior. Contam os antigos, através de relatos e depoimentos, de que a igrejinhaera reduzida à nave da atual, e, coberta de palha. Com a criação da Paróquia de São Sebastião em 1880, a igreja foi reformada em 1884, por impulso de uma Nova Festa da Folia do Divino, em 1882, por promessa da Senhora Alta de Alarcão(Dona Sinhalta) e correspondendo ao prédio atual. A reforma e reconstrução ocorreu com a participação de toda a comunidade, incluindo o meu bisavô, Aprigijo de Sousa Gomes (filho de Brígida Gomes Rabelo e José de Sousa).

As referências daquele cemitério carregam a sua localização e a formação do Arraial de São Sebastião (de Mestre d’Armas).


A festa do Santo padroeiro aconteceu, repetidas vezes, como o acontecimento mais importante do Arraial, depois do Distrito e posteriormente da Vila e da Cidade. É do conhecimento popular, também, que com a criação da Paróquia trouxe o aparecimento das realizações dos preceitos da Semana Santa, das passagens de São João e do Natal. A partir da segunda década do século passado, a Folia do Divino supera em investimento e valorização a Folia ou Festa de São Sebastião. Ela ressurge recentemente resgatando à importância de seu padroeiro.

A festa do Santo padroeiro aconteceu, repetidas vezes, como o acontecimento mais importante do Arraial, depois do Distrito e posteriormente da Vila e da Cidade. É do conhecimento popular, também, que com a criação da Paróquia trouxe o aparecimento das realizações dos preceitos da Semana Santa, das passagens de São João e do Natal. A partir da segunda década do século passado, a Folia do Divino supera em investimento e valorização a Folia ou Festa de São Sebastião. Ela ressurge recentemente resgatando à importância de seu padroeiro.


A doação das terras para o mártir São Sebastião foi registrada em Cartório em 1858. E no Memorial descritivo dos limites da Cidade, realizado pela Novacap no período de construção de Brasília, são registradas as negociações, permutas com a Intendência Municipal, depois com a Prefeitura Municipal, a partir de 1938. Esse documento comenta claramente que a doação inicial é feita para o “glorioso mártir São Sebastião”.
Finalmente, reafirmamos que a fundação do Arraial está intimamente ligada a identidade cultural de Planaltina. Isso para não citar a importância do Santo padroeiro como resposta às aflições dos povoadores do Sítio, nos primórdios. 20 de Janeiro de 1811, esta é a data ligada ao Patrimônio do Santo e da Igreja e ligada ao sentimento dos seus moradores. 

VOLTAR AO TOPO

 

Copyright © Instituto Cerratense - 2020 - Todos os direitos reservados.
ISSN -  2447-8601

I